Empoderamento Feminino

QUANDO UMA MÃE SAI DO ARMÁRIO

Por Lênia Luz

Senta que lá vem textão 🙂

Hoje pela manhã compartilhando um causo ( tive um pesadelo) ocorrido em minha madrugada, com minha Equipe LUZ, ouvi a seguinte frase: “Ah Mãe ! Faz tempo que você está querendo sair do armário!”
Na verdade eu já saí, mas hoje, depois desta frase acima vinda de um sorriso lindo que tenho em minha vida há 23 anos, resolvi compartilhar com vocês que me seguem.

Sim, eu sou uma mãe saindo do armário e eu não sei se a minha história terá ressonância com a sua, hoje ou em algum dia, ou se você compartilhará ela com alguma mãe ou pai, que como eu viveu o inferno e o céu, ao saber da homossexualidade de sua filha.

Tudo aconteceu quando eu estava grávida do Vitor, há quase 7 anos atrás, e em meio a uma gravidez de risco, a um momento de fragilidade financeira da família e ao desejo de morte de minha filha, o mundo desabou. Na ocasião, meu ALERTA MATERNO, sim as mães tem um alerta, mas por vezes deixamos ele de lado, já dizia que aquele desejo de morte estava relacionado a orientação sexual de minha filha. Mas não bastava meu alerta estar acionado, precisava que ela mesma me contasse, afinal, criei meus filhos dizendo que estaríamos juntos, independente de nossas escolhas na vida.

 

Fonte da Imagem: Por aí
Fonte da Imagem: Por aí

A gravidez de Vitor foi como um momento de seguridade de vida para minha filha, pois ao mesmo tempo que ela sofria por ter medo de me fazer sofrer, ela não suportava mais ter que segurar toda esta VERDADE somente para ela. E então em meio a crises de pânico e de conversão dela ( leia mais aqui: http://www.megacurioso.com.br/…/71731-sindrome-da-conversao…) passamos juntas a gravidez, ela querendo falar, eu querendo ouvir, mas o momento era de apenas silenciar e cuidar. Neste período tinha um marido e PAIdrasto assumindo um papel de amor na vida dela, pois ao me ver grávida e ao vê-la tão frágil, nunca questionou, apenas a acolheu e a amou. Ela passou parte de NOSSA gravidez dormindo em nosso quarto, pois temíamos que ela tentasse contra sua jovem e linda vida. Tudo isso poderia ter nos desestruturado como família, mas como algo DIVINO, nos aproximou ainda mais.

Após o nascimento de Vitor, exatos 5 meses depois, veio à tona o que eu tanto “temia”. SIM, nós tememos o que sai de nossos planos, nós tememos o diagnóstico médico contrário, nós tememos o fracasso, nós tememos a negação do que entendemos que é “normal”, nós tememos o que desconhecemos. Mas ao conversar com ela, olhos nos olhos, vi a minha menininha nascendo de novo, de um parto natural e com seus olhinhos verdes brilhantes dizendo: “ Você me amará para sempre, não é?”.

Muito choro, muita dor e muito amor se misturaram neste dia para nós duas e seguimos em frente. Não, não pense que foi simples assim como final de uma novela global. Passamos por muitos “perreios”, pois ninguém me ensinou como seria entender este novo que surgia na minha vida muito menos na dela. Eu estava começando uma nova fase aos 4.1, em uma nova maternidade madura e ao mesmo tempo lidava com um novo horizonte com minha filha. Somos uma Equipe e por sermos uma Equipe, buscamos respeitar cada um como ele é, mas também discordamos e pensamos de maneira diferente. E com o meu acolhimento isso não queria dizer que todos compreendessem e acolhessem.

Foram dias, semanas e meses de muita luta interna e externa, pois em nenhum momento disse a ela que teria que fazer terapia para se tornar heterossexual, mas sim que ela precisava se firmar como pessoa, para enfrentar tudo que JUNTAS viveríamos pela frente.

Já se passaram quase 7 anos, e hoje quem tenho em casa é a mesma filha que recebi nos braços em 10 de outubro de 1992, na linda e calorosa cidade de Maringá. Mas que aos 18 anos desejou morrer, por medo, por vergonha e por não querer me fazer sofrer.
Tudo que uma mãe e um pai não desejam para um filho é a morte, tão menos que eles desejem a morte. Portanto a escolha de viver e de viver de uma maneira FELIZ e digna, apesar do olhar preconceituoso da sociedade, merece respeito.

Ontem estávamos todos indo ao Cinema, para ver “Procurando Dory”, um passeio em família, e nesta família que só cresce, temos a namorada de minha filha. Saímos sem controles, sem amarras, as duas de mãos dadas, se beijam, brincam com Vitor, riem conosco como todo casal que se ama. Mas vi olhares direcionados para nós, como que se fôssemos um bando de ET’s.
Não somos. Somos apenas uma família que respeita e acolhe, que briga, que se desentende, que fala alto, que discorda mas que se AMA de maneira incondicional e portanto respeita cada membro dela.

Comecei este texto dizendo que tive um sonho, quer dizer, um pesadelo e este pesadelo eu não tenho ele apenas dormindo. Pois em um mundo onde uma família andando no shopping é vista com indignação; como mãe eu temo por uma filha que sai com sua namorada de dia ou de noite, e que possa viver algum tipo de violência. Mas pesadelos são só pesadelos e eu prefiro os sonhos, aqueles que me levam para um lugar chamado AMOR ao próximo, como a SI mesmo.

Abro um parênteses neste compartilhar…Quando Vitor nasceu tudo já tinha sido compartilhado e estávamos todos buscando acolher este NOVO momento que acontecia. Para ele nunca foi preciso dizer que a irmã é homossexual e o porque dela ter uma namorada e não um namorado, pois para ele isso não faz a mínima diferença. Ele a AMA e pronto!

Para esta mãe que sai do armário fica minha gratidão a Natália Nogueirapor compreender o meu desconhecer e, juntas, nos apoiarmos e crescermos com sua história. Gratidão ao meu marido Marcio Tadeu Aurelio que foi e tem sido um PAI de fato, sem questionamentos, apenas cuidado, pois os meus “pesadelos” são os dele. Aos meus filhos Daniel Nogueira Porcides e Gabriela Luz por permitirem-se negar, acolher e hoje simplesmente amar. Ao Vitor por mostrar que tudo é SIMPLES ASSIM, quando não temos preconceitos marcados em nós.

Às mães e pais que me lêem, e que tem um filho/filha homossexual, meu pedido: AMEM, AMEM e AMEM. Pois não existe nada maior que este AMOR para quebrarmos com todos os paradigmas e preconceitos que nos foram ensinados ao longo da vida.

Aos religiosos de plantão: Recolham seus julgamentos, o DEUS de vocês também é AMOR.

Hoje eu saio do armário com minha alma lavada e a certeza de que a luta contra o preconceito é grande, mas que NOSSA história, como Equipe LUZ poderá ajudar e encontrar ressonância com muitas famílias por aí.
Beijos de AMOR compartilhado.

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