Numa ensolarada manhã de outubro de 1973, cheguei ao Brasil, desembarcando no porto de Santos. Eu não tinha muita noção do que acontecia, dentro dos meus seis anos de idade, não sabia da procura por uma vida mais próspera e segura, por parte dos meus pais, depois do golpe militar no Uruguai, minha terra natal. E, mesmo sem saber como seriam meus anos dali por diante, gostei do que vi e senti quando pisei no chão brasileiro. Sempre, durante todos estes anos, me senti uma filha desta terra, que me acolheu e à minha família, da melhor forma possível, dentro de muita luta dos meus pais e muitas alegrias. Adaptei-me rapidamente às pessoas, à vida daqui, ao idioma diferente, mas um pouco familiar já. Guardo em meu coração com muito carinho, meus primeiros amiguinhos de escola e a minha professora, que me ajudaram muito a seguir em frente e conquistar meu espaço com minhas próprias pernas.
E assim fui construindo minha história por aqui, passando pelas melhores escolas, construindo relacionamentos e amizades que perdurarão em minha memória por toda a minha vida, levando grandes “tombos”, alguns bem feios, mas aprendendo a levantar com força renovada, aquela que a gente vai aprendendo a encontrar dentro de nós mesmos. O ballet apareceu em minha vida bem cedo, com oito anos e, apesar de minha dedicação e alegria, não tinha ideia da importância que ele teria em minha vida.
Infelizmente, deixei de praticá-lo para me dedicar aos estudos, vestibular e faculdade, não por uma opção do coração, mas porque naquela época se acreditava que seguir em frente com a dança, com certeza não me traria o retorno financeiro que eu precisaria para sobreviver.
E, apesar de, a princípio, não ter sido uma escolha do coração, iniciei meus estudos em Psicologia. Não sabia muito sobre ela, não se falava muito sobre ela, mas, com o passar dos anos no curso, percebi que esta também havia sido minha escolha. Passei a entender a Psicologia mais profundamente e a me identificar muito com ela e assim soube que ela também havia passado a fazer parte da minha vida.
Depois de formada, durante alguns anos e por outras exigências, acabei novamente por me dedicar mais a outras atividades mais rentáveis e de retorno rápido, mas tendo sempre a Psicologia atuando nos “bastidores”, como minha fiel companheira a cada dia que passava. E a cada dia também, ela foi se tornando mais forte dentro dos meus sonhos, dos meus ideais, das minhas metas… E, como a vida nos dá diversas chances para seguirmos o caminho que nos pertence, ela sempre colocou a Psicologia e a dança diante dos meus olhos, como se dissesse: “Você não vê que este é o seu caminho verdadeiro? Ele é teu! Siga-o, vá em frente!” Por muitas vezes me senti insegura, deixei para trás uma estrelinha que havia conquistado, por medo das exigências externas, cruéis e injustas e, por isso, minha luta tem sido dura para reconquistar meu lugar. Eu não me dava conta, entre tantas provas duras que o Universo havia colocado em meu caminho e com as quais eu precisava adquirir meu aprendizado, que eu tinha minha força, meu valor, meus sonhos e que a Psicologia e a dança ainda estavam lá, do meu lado, para não me deixar esquecer o que me pertencia.
Foi assim que, neste renascimento, percebi que precisava me dedicar totalmente à Psicologia e à dança, numa união entre as duas. Tudo vinha acontecendo para que um trabalho conjunto fosse realizado. Fui atrás das informações necessárias e de trabalhos que já tivessem sido realizados nesta área e cheguei à Psicologia Gestalt, antiga conhecida das épocas da faculdade e a uma de suas aplicações: a Arteterapia. A Dança Terapia ou Dança Terapêutica é uma das ramificações dentro da Arteterapia e me mostrava exatamente o que eu queria fazer. Mostrava que meus “sonhos” eram reais. A participação em um Workshop, em São Paulo, foi o “fechamento” que eu precisava para a minha decisão.
Hoje, tenho total dedicação às coisas que me fazem plenamente feliz: os cuidados incondicionais para com a minha filha e os cuidados comigo e meu trabalho. A satisfação em ter encontrado este caminho que une a arte e a ciência, para a felicidade, a realização e o bem-estar das pessoas. A alegria de sentir a liberdade de poder continuar dançando… E foi neste momento importante de minha trajetória profissional que encontrei o “Empreendedorismo Rosa”, através de uma grande amiga. Um espaço que representa o reconhecimento do meu trabalho e a oportunidade de conhecer outras mulheres que, como eu, construíram seus caminhos com muita luta e alegria. Um espaço que faz verdadeiro o meu lema e mais forte a cada dia: “Tudo vai dar certo!”
Gabriela Prado é Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica, pelo Centro Universitário FMU – SP. É proprietária do CEDOP Centro de Desenvolvimento Organizacional e Pessoal, que se preocupa com o desenvolvimento de organizações e pessoas, dentro da visão de uma Psicologia mais inovadora. Está à frente do Projeto Grupo APOIO, direcionado à famílias expatriadas; do produto inovador VAP-Vídeo Apresentação Pessoal, destinado à recolocação de pessoas no mercado de trabalho e, mais recentemente, do Projeto ART&VIDA, que utiliza a dança/dança terapia como poderosa ferramenta de trabalho nos mais diversos ambientes. Para este último, Gabriela utiliza sua formação em ballet clássico e especialização em danças árabes, além de sua dedicação também à dança durante toda sua vida. É criadora do blog “A Metamorfose da Lagarta”, um espaço para a publicação de artigos em diversas áreas, para reflexão e troca de informações. Hoje, seu principal objetivo é a divulgação e a atuação dentro de uma Psicologia empreendedora e inovadora, principalmente através da dança, como forte ferramenta de trabalho.