Por Karla Fabro
Nunca imaginei empreender, embora acredite que todos, de alguma forma, possuímos caraterísticas empreendedoras. Ao decidir por este caminho percebi que na minha família já existia essa veia. Uma delas vinha do meu avô materno, que por volta da década de 40 tinha 2 armazéns, no interior do Paraná, onde vendia de tudo, o famoso secos e molhados daquela época. Outro exemplo vinha da minha avó paterna, que criou sete filhos com uma pequena mercearia, vendendo somente bananas, já que no Equador xistem mais de 40 tipos delas.
Ao decidir empreender somos tomados por uma força maior. Tem aqueles que nos chamam ede loucos e, mais ainda quando somos mulheres. Para muitos empreender pode parecer fácil, porém só quem está dentro da situação é que sabe da realidade.
A escolha que fiz foi tomando forma aos poucos e continua em processo de construção e melhoria, quanto mais me envolvo, mais ideias vão surgindo, vou fazendo novas conexões, vejo novas possibilidades, vou testando outras, um processo de criação onde vou definindo melhor qual é o formato que quero dar para meu empreendimento.
Até aqui talvez nada de novo, mas no meu caso isto começou a mudar quando eu e meu marido, em uma conversa, decidimos que seria uma boa ideia mudar de país por um tempo. Para sair de Curitiba e visitar os lugares que pareciam fazer sentido para a minha pesquisa, teríamos que investir mais tempo e dinheiro. Chegamos a conclusão que poderia ser feito de uma forma mais fácil se mudássemos para Portugal, ficando mais próximos dos destinos que queríamos ir, outros países da Europa e alguns da Ásia.
Dois meses antes de embarcar de mala e cuia para Lisboa fomos surpreendidos com a vinda da nossa filha. Isso sim seria uma grande mudança! Ao saber da novidade de que seriamos pais, muitas coisas passaram pelas nossas cabeças. A primeira era que a decisão do projeto que hoje leva o nome de Autonômicos, fazia mais sentido do que nunca, a motivação que já tínhamos só aumentou. E a segunda era que não haveriam mudanças de planos.
Vários amigos e familiares repetiam as mesmas perguntas, querendo saber se tínhamos mudado de planos devido à chegada da nossa filha; se estávamos certos de que mudaríamos; como eu iria fazer sem meus médicos; que não seria um bom momento para empreender, já que estando grávida as coisas ficariam mais complicadas, ainda mais longe de “casa”, etc. Muitas pessoas demonstraram acreditar que, por estar grávida, nós deveríamos permanecer em Curitiba e mudar nossos planos, ao que sempre respondi, “nada mudou, os planos continuam os mesmos, esta criança só confirma o que já havíamos decidido!
O fato de estar grávida me deu uma energia maior de querer que as coisas funcionem. Muitas das ideias foram se clareando e passei a observar os comentários de que deveríamos abandonar nosso projeto como algo natural daqueles que, de alguma forma pareciam demonstrar medo de arriscar, medo do novo e principalmente medo de se jogar, neste caso com uma criança na barriga. O que eu via é que para poder transmitir uma atitude empreendedora para a filha que estava a caminho, não bastava ler livros e fazer cursos, mas sim, ter as minhas experiências para contar.
Enfrentar todas estas mudanças exigiu de mim um esforço a mais, tive que criar a minha estratégia para administrar cada uma delas de uma forma que não me paralisasse ou impedisse de agir. Tomei consciência de que minha nova condição de “mãe” também me trouxe algumas limitações, porém, se não tivesse me mantido flexível a todo este processo talvez meu aprendizado teria sido muito mais doloroso. Quem sabe se formos um pouco mais como as palmeiras que se curvam a medida em que a tempestade chega, possamos nos tornar mais abertos às coisas inesperadas, embora tenhamos nos planejado.