Por Pâm Bressan
Aos oito anos de idade eu sofri a maior humilhação da minha vida.
Sempre fui extremamente tímida, quando digo extremamente, leve ao pé da palavra. Isso mesmo. Aquela tímida que morria de vergonha dos outros. Totalmente bicho do mato. Até certo tempo eu vivia querendo me esconder de tudo, e de todos.
Nos primeiros dias de aula, minha vida era um sufoco. Na verdade, ali eram os piores momentos para uma tímida, ou seja, para mim. Não aguentava ficar nem meia hora sem meus pais, começava a me sentir solitária e vítima dos coleguinhas (hoje eu entendo que meu posicionamento era de vítima, naquela época eu achava que não era a culpada e sim eles eram culpados). Bem, abria a boca e lá vinham os professores, os coordenadores, a tia da merenda, a minha irmã que estudava no 5º ano me perguntar o que aconteceu. “Então Pâmela, o que aconteceu agora? – Nada.” Eu apenas queria meus pais. Chegaram até me doar um filhote de cachorro de raça, além de livros e chocolate, claro!
Mas eu não conseguia enfrentar meus pensamentos. Simplesmente dentro de mim morava um medo terrível de ficar sozinha sem meus pais ou minha irmã. Nas primeiras séries da escolinha, eu cheguei a assistir algumas dezenas de aula com meu pai na cadeira ao lado. Quando ele não podia ir junto, o medo tomava conta dos meus pensamentos e acelerava meu coração. Eu sabia que teria um dia difícil.
Na primeira série do ensino básico, numa bela e fria manhã (eu me lembro do frio porque minha mãe encasacava a gente), ocorreu o dia mais vergonhoso da minha vida. Estava apurada para ir ao banheiro, sozinha, sem meu pai ao lado, e o medo falou mais alto que a coragem , não consegui levantar minha mão para solicitar permissão à professora para ir até o banheiro. Foi então que tudo aconteceu. Eu senti descer devagarinho aquele liquido quentinho formando uma poça embaixo do meu uniforme, logo depois as primeiras gotas escorrendo pela cadeira de madeira velha, e o suave (terrível e apavorante) “ping ping ping” de cada gota ao cair no chão.
Acho que eu congelei. Fiquei cega. Queria que um buraco se abrisse debaixo dos meus pés. Queria ter a varinha do Harry Potter para fugir dali. Queria sair correndo, mas meus pés congelaram. Queria gritar socorro para meu pai mas nada, nada saiu. Este dia depois das risadas dos colegas e das malhações que perduraram por muito tempo, tive a certeza que precisava enfrentar meu medo, aumentar minha autoestima, me enfrentar no espelho e buscar a coragem.
Até meus 14 anos eu ainda cresci com muitas dúvidas, muito medo e muita timidez. Mas é engraçado porque em certos momentos eu lembro que era tagarela, falante, e amava fazer teatro, o que me deixava louca de felicidade!
Quando eu estava atuando eu me sentia SUPER BEM! Isso era muito estranho. Participei de muitas peças de teatro durante os primeiros anos de escola, lembro-me claramente, de uma atuação na quinta série, onde eu era a Narizinho do Sítio do Picapau Amarelo, recordo do nosso esforço em gravar a peça, dos risos nos erros, do nervosismo e da ansiedade, lembro que minha colega era a Dona Benta e colocaram até talco em seu negro cabelo.
Bom, eu amava *”teatrar” (*novo verbo), digo, atuar. Até hoje gosto e um dia ainda quero voltar para os palcos (fala de uma grande estrela, percebem? rs) Bom, eu tive a “sorte” de me auto conhecer um pouquinho para saber que em mim morava uma menina comunicativa e extrovertida. Havia uma águia querendo voar. Ela gritava em meu peito querendo rasgar minha carne e sair pela garganta para voar as colinas, esta águia era uma nova PÂMELA. E um dia ela saiu da casca. Desta pequena (mas intensa) história da minha vida, aprendi algumas lições na qual compartilharei aqui, segue abaixo:
- Procure se conhecer o mais rápido, cedo e o mais profundo possível.
- Não acredite em tudo que falam sobre o mundo lá fora.
- Não acredite em tudo que falam sobre sua personalidade, sobre seu Eu, sobre como deve escolher até mesmo um sapato: Seja você!
- Tenha opinião. Escolha conforme seus gostos. Crie seu ponto de vista. Saiba se defender.
- Ouça seu coração.
- Não tenha vergonha de dizer de onde você veio/nasceu.
- Transforme o medo em coragem: ENFRENTANDO!
- Peça ajuda quando precisar, não tenha vergonha.
- Deixe a águia gigante sair de dentro de você.
- Não se sinta vítima dos outros, você é responsável pelos seus pensamentos e por suas atitudes;
- Não se vitimize e nem terceirize nada: (pais, governo, tempo, namorado, marido, filhos).
- Sempre a culpa, o fracasso, o erro e a vitória será de quem fez!
- Prepara-se para enfrentar o mundo.
- Não seja um tímido para sempre. Se for, progrida um pouco a cada dia. Mete a cara!
Tenham uma excelente semana!
Um beijo.