Empoderamento Feminino

Greenwashing: o inimigo da transparência corporativa

“A realidade mundial e a busca constante pela implementação de medidas sustentáveis, exigem que as empresas priorizem, cada vez mais, a adoção de modelos que sejam ecologicamente sustentáveis, socialmente justos e economicamente viáveis. Nesse sentido, as empresas passaram a dar palco e maior destaque para medidas ESG, isto é: padrões éticos que respeitam o meio ambiente, o social e que se pautam na governança corporativa. 

Ao mesmo tempo que a bandeira ESG é levantada fortemente pelas empresas, diversas delas ainda se utilizam de tais preceitos para se destacar no mercado, sem adotar verdadeiramente medidas sustentáveis. 

É nesse sentido que surge o greenwashing, ou ainda, a “lavagem verde”; onde empresas “maquiam” dados e iniciativas “verdes”, ou seja, iniciativas com aparência de focadas no ambiental, para receberem incentivos ou até mesmo chamar atenção para investimentos nacionais e estrangeiros. Essas informações também são utilizadas para atrair consumidores, principalmente aqueles que estão em busca de produtos e serviços sustentáveis. 

Interessante destacar que o greenwashing, infelizmente, já é uma realidade não só ao redor do mundo, como também no mercado brasileiro. Grandes empresas no Brasil foram postas sob os holofotes, com escândalos relacionados com a matéria, principalmente, por divulgarem dados ambientais inverídicos, produtos e serviços sem a devida transparência e por meio de condutas antiéticas. 

Em relação a tais divulgações de natureza enganosa, é importante ressaltar o retrocesso gerado a todo trabalho que vem sendo desenvolvido e realizado ao redor do mundo para combater as medidas de greenwashing que estão sob o disfarce de indicadores ESG. A ética tem se tornado cada vez mais um elemento chave e intrínseco para os negócios. Quando se descobre a prática de greenwashing, existe um custo grande para empresa que disseminou essas informações “maquiadas”, podendo trazer prejuízos, não só ambientais, como também financeiros, regulatórios e reputacionais. 

Sabendo dos prejuízos, portanto, fica o questionamento: (1) porquê manipular essas informações? e (2) qual o impacto que o greenwashing promove ao longo prazo? 

Atenção ao greenwashing! 

Recentemente, tivemos um caso famoso de uma rede varejista brasileira que trouxe à tona a relevância do greenwashing no mercado brasileiro, surgindo diversas notícias, palestras e artigos de opinião sobre a importância do ESG no mundo corporativo. 

Segundo a “Pesquisa Global com Investidores 2023” da Pricewaterhousecoopers (conhecida também como PwC), veiculada na Revista Exame, para 98% dos investidores brasileiros, existe a prática de greenwashing nos relatórios de sustentabilidade. Tal informação é deveras preocupante e sugere que o Brasil ainda tem um longo caminho para se firmar neste novo mundo dos negócios sustentáveis. 

O percurso ainda é sinuoso, mas o combate ao greenwashing é um trabalho constante e o apoio do Governo é essencial para que a mentalidade do mundo corporativo brasileiro se altere com o tempo, priorizando soluções para negócios sustentáveis e vislumbrando-se, assim, a proteção a investimentos verdes. A transformação de mentalidade é fundamental para que a prática se torne, cada vez mais, uma exceção e traga maior segurança para os investidores no Brasil e mundo afora.

Neste sentido, no mês passado, o Governo Brasileiro lançou o Programa de Mobilização de Capital Privado Externo e Proteção Cambial, que tem por objetivo incentivar investimentos estrangeiros em projetos sustentáveis no país e oferecer soluções de proteção cambial, para que os riscos associados à volatilidade de câmbio sejam minorados e não atrapalhem esses investimentos tão cruciais para a transformação ecológica brasileira.

Um programa como esse demonstra que o assunto é preocupante e que necessita de combate e atenção, como ocorre igualmente com a corrupção. É um incentivo positivo e também fomenta a conformidade nos negócios, já que o acesso ao benefício depende da apresentação de dados reais, transparentes e verídicos. 

Ademais, verifica-se que quanto mais discutirmos a prática e incentivarmos a sua conformidade, ou seja, sugerirmos ações contra o greenwashing, melhor caminhamos para assegurar que esse “inimigo corporativo da transparência” não se torne uma “rotina” e uma prática habitual para empresas. 

Diante de todo o exposto, é importante destacar que o engajamento e motivação de todos os Departamentos e/ou Diretorias de uma empresa são de suma importância para que as medidas ESG prosperem, trazendo maior rentabilidade, reconhecimento no mercado, seja nacional ou estrangeiro. 

A sustentabilidade quando devidamente incentivada pode trazer grandes benefícios como um todo para o planeta e para as empresas. Adoção de medidas reais de sustentabilidade e ESG trazem a devida transparência e ética nas ações que o mercado tem buscado e incentivado. 

Nesse sentido, o greenwashing precisa ser discutido para que outros casos no mercado brasileiro não ocorram. Da mesma forma, outros incentivos precisam ser criados, para assegurar que dados verídicos estão sendo divulgados adequadamente no mercado. 

Por fim, a propagação, por meio do chamado “tone at the top” da ideia de que a transparência é necessária para a sobrevivência dos negócios de forma sustentável, permite difundir os ideais de investimentos verdes em toda estrutura organizacional da empresa, evitando que os incentivos acabem sendo direcionados erroneamente às empresas que propagam práticas de greenwashing.”

Amanda Ribeiro Soares

Advogada

Gerente de Ética e Compliance da América do Sul e dos Estados Unidos

Especialista em Compliance, Penal Econômico, ESG

Flora Ricca

Advogada

Analista de Conformidade Sênior na CNP Seguradora

Especialista em Compliance

Membro Compliance Women Committee e da Comissão de Compliance da OAB SP

Este texto faz parte do E-BOOK ” Vozes Femininas na Sustentabilidade” idealizado por Daniele Ciotta 

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