Por Bianca Soprana
Começo de ano é época de nos organizarmos e fazer planos para o ano que inicia. Todo ano que começa carrega um caráter de reflexão, de olhar para a caminhada, e pensar sobre a direção que estamos seguindo. Muitos colocam metas e objetivos neste período. Pensando nisso, gostaria de contar a história de um livro chamado Fio da Navalha que apresenta diferentes personagens, cada qual com objetivos distintos para a vida.
A história se passa entre os Estados Unidos, Inglaterra e França em meados do século XIX, onde a vida de diferentes personagens se cruza. Elliot quer status social e uma vida convencional. Sophie tem uma personalidade observadora e, já moça, percebe a hipocrisia presente nas comunidades humanas e vai perdendo sua fé na vida. Um dia voltando de uma festa com a família, bate o carro, e seu marido e filho morrem no mesmo instante. Izabel é apaixonada por Larry, seu colega de escola. Formam um belo casal jovem enamorado. Larry vai servir a guerra e se depara com a realidade da morte. Ao retornar para os Estados Unidos não é mais o mesmo. Não consegue ter os mesmos planos de seus amigos de formar uma família, ganhar dinheiro e construir os Estados Unidos da América que prometia ser o país mais rico que o mundo veria.
Larry é órfão resolve se mudar a Paris para se dedicar aos estudos enquanto todos os seus amigos se esforçam para começar uma carreira promissora. Izabel, um dia, o visita e lhe dá um xeque-mate: – “Nós não podemos nos casar antes de você começar a trabalhar. O que você está esperando Larry?” E ele responde: – “Eu preciso compreender a existência do mal, a existência ou não de Deus, se possuo uma alma imortal…” Larry era um homem religioso. Suas perguntas eram de ordem espiritual. Izabel se choca e diz para ele esquecer essas perguntas e aproveitar a vida. Eles discutem por longas horas, Izabel diz que só quer levar uma vida comum, formar uma família, frequentar bailes e se divertir, e que não quer nada disso do que Larry quer oferecer a ela: a vida centrada no Espírito.
A história narra a vida de muitos outros personagens que não estão incluídos aqui. A beleza do Fio da Navalha é justamente a apresentação de distintos propósitos humanos e de como estes personagens vão se diferenciando ao longo da vida de acordo com estes propósitos. E, nesse ponto, gostaria de aproveitar o romance para refletir sobre esse período do ano.
Pergunto a nós mulheres: para onde estamos dirigindo nossos objetivos, nossas ações e nossos esforços? O que queremos da vida? Quem estamos formando? Que tipo de pessoa queremos ser? Como o Elliot, como a Izabel, como o Larry? O nosso propósito de vida formará nosso caráter e nossa pessoa – a pessoa que queremos ser, que se forma a partir de uma sucessão de atos, esforços e objetivos em direção a um propósito de vida. Esse propósito delimitará o tipo de vida que teremos. Cada personagem do livro teve um fim específico como resultado de uma vida inteira de esforços em direção ao seu objetivo. Izabel terminou rica e frustrada, Sophie se autodestruiu, Elliot morreu velho e triste por não ter sido convidado para o aniversário de uma princesa. Larry encontrou o sentido da vida.
Esses personagens nos convidam a estarmos atentas aos nossos objetivos, antecipando o que estamos formando no seio da nossa vida. Também nos convidam a considerarmos nossa vida inteira, quando pensamos em nossos objetivos, de modo que possamos reconhecer neles a presença de um fio condutor que unifique nossa vida em diferentes aspectos: família, trabalho, formação humana e cultural, arte, recolhimento, viagens e lazer… Podemos com isso nos libertar de equilibrar todos estes aspectos, não precisamos ter uma “roda da vida” perfeita e simétrica, já que a medida de atenção a cada um desses pontos poderá ser proporcional ao nosso propósito de vida, e não simplesmente objetivos/metas para o ano. Além de podermos gozar da paz de quem pode ser a mesma nos diferentes segmentos da vida, pois a presença de um propósito unifica o homem e seu coração.