Por Natália Menhem
Já pensou se uma pequena ação sua pudesse trazer dignidade e cidadania às pessoas ao seu redor? Já imaginou que quando damos confiança e crédito às pessoas pode ser isso que receberemos em troca? Foi isso que a Bruna Augusto descobriu por meio da implementação do Projeto Renda Básica de Cidadania na comunidade de Quatinga Velho, em Mogi das Cruzes. A iniciativa é muito inovadora e transformadora e, ao ter a oportunidade incrível de conhecer a Bruna, resolvi pedir a ela que fizesse um depoimento contando um pouco de sua trajetória e, principalmente, o que a motiva nesse caminho todo. Abaixo está um pouco dessa história, dela e do projeto (bem inseparáveis, segundo ela, o que é super compreensível para nós, empreendedoras), especialmente para essa coluna, com os meus votos de que possamos aprender e nos inspirar com ela.
“Nasci e cresci em SP. Estudei biologia na faculdade. Em 2006, após me formar, buscava o que fazer quando um amigo me convidou para trabalhar em uma ONG em Cubatão, uma das cidades mais poluídas do mundo. Pela primeira vez pude trabalhar em diversas áreas ao mesmo tempo, e sempre aprendendo coisas novas e diferentes! ADOREI! Lá conheci o Marcus, meu companheiro de tudo! Em Outubro de 2006 fundamos o ReCivitas, com foco em Cidadania. Iniciamos logo no ano seguinte a TVONG, uma TV de internet focada nas ações do Terceiro Setor, onde empresas e ONG estariam juntas, facilitando contato e tendo retorno de imagem aos patrocinadores. Viemos para SP. Logo em fevereiro ficamos sabendo da abertura de chamamento de casas para morar na vila histórica de Paranapiacaba. Mudamos em uma semana e ficamos até hoje. Viemos para trabalhar e morar, já que a vila possui todos os requisitos de quem quer trabalhar com projetos sociais, ambientais, restauração de patrimônio cultural… Começamos então a pesquisar formas de trazer renda aos moradores da vila, uma vez que a grande maioria vive em condições ruins. Nos deparamos com a Renda Básica de Cidadania, lei sancionada já em 2004 e que a gente desconhecia. Depois de muito estudar sobre transferências de renda, duvidar de que a ideia funcionava, limpamos nossos preconceitos e decidimos testar seus conceitos, não com dinheiro, mas com livros e brinquedos, na janela de nossa casa. Cada pessoa poderia pegar um livro e um brinquedo, sem burocracia, e só devolver se quisesse pegar outro, senão ficava como doação. Como a vila possui mil habitantes, em 10 dias já podiamos ter respostas muito rápidas, negativas e positivas. Foi aí que sentimos que se dermos confiança seremos retribuídos com a mesma – e isso irá, sem sombra de dúvida, mexer com sua autoestima. O desenvolvimento é natural. Ali, da janela de nossa casa víamos todo o processo e resultados. Próximo passo: convencer os políticos da região e empresas que a RB é um bom projeto e que vale a pena investir pois as mudanças são imediatas. De dezembro 2007 a outubro de 2008 foi uma luta sem fim!! Só levando “Não”! Ficamos sozinhos… E com a vila inteira esperando a RB chegar, pois nossa intenção era fazer da vila de Paranapiacaba o piloto da RB no Brasil. Foi aí que, vendo o quanto a gente gastava por mês só para fazer captação de recursos e convencer os outros, decidimos parar tudo e usar este dinheiro para iniciar o RB em alguma comunidade. Assim encontramos Quatinga Velho, em Mogi das Cruzes. Passamos de casa em casa nos apresentando, falando o que era o projeto, o ReCivitas e nossas intenções. Fizemos uma reunião, no início de Outubro de 2008, onde mais de 50 pessoas estavam presentes e destas, 27 quiseram iniciar voluntariamente a experiência do pagamento de uma Renda Básica Incondicional. Então, no dia 25 de outubro, sem avisar ninguém, fomos às casas levando o dinheiro e entregando os R$30,00 individuais, iniciando assim um marco para a Renda Básica no mundo e uma mudança interna muito grande para mim, que aos 24 anos coloquei em minhas costas uma responsabilidade muito grande e da qual não fazia ideia naquele momento. A RB mexe com esperança! Mexe com autoestima, quebra paradigmas e dá o empoderamento ao cidadão. Tiramos de nosso bolso R$810,00 no primeiro mês para pagar as 27 pessoas. Nos meses seguintes, mais pessoas quiseram entrar no projeto e alguns entusiastas da ideia começaram a doar ao projeto, e doam até hoje. Não só no Brasil, mas no mundo todo. Hoje, o projeto possui estudos feitos por nós e independentes, da Suíça, Alemanha, Bélgica e uma publicação na ONU-ECLAC diz que o projeto é a melhor ferramenta para erradicação da miséria na América Latina.
Atualmente estamos lançando uma plataforma de governança para Democracia Direta Digital, o Governe-se e desenvolvendo o BIG Bank, banco social da Renda Básica, onde trabalhamos com moeda virtual. Criamos também a Licença RobinRight, de propriedade intelectual e direito autoral, alternativa ao Copyright. Meu trabalho no ReCivitas é voluntário, todos estes anos. Tenho custo de vida muito reduzido por morar fora de SP, então por muito tempo vivi da TVONG, hoje dou aulas e palestras sobre diversos temas como a própria RB, associativismo, redes. Mas fica a pergunta final: o que me motiva? Após 3 meses do projeto de RB, vi mudanças significativas, principalmente no estado nutricional das crianças em Quatinga Velho. A RB é muito transformadora, pois traz dignidade às pessoas. A minha motivação só “piorou” quando me tornei mãe: trabalho hoje para meus filhos terem um pouco mais de justiça e igualdade neste mundo. E para isso, EU preciso fazer algo! Estou completamente à disposição para quem quiser começar um projeto de RB em pequena escala! Sou muito feliz porque faço o que gosto, mesmo sabendo que muitas vezes as mudanças são dolorosas e demoradas. Mas as pessoas estão ali, então precisa ser rápido, senão elas podem não ter amanhã.”
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É muito importante a questão do empreendedorismo social e m São Paulo estamos estimulando e criando diversos trabalhos criativos vejam: http://associacaoguaianazes.blogspot.com.br/