Por Mara Gabrilli
Sempre fui apaixonada por arte e a deficiência nunca me desligou dessa paixão. Algum tempo atrás, fui à exposição do Andy Warhol, que estava acontecendo em São Paulo. A explosão de cores, muito presente no trabalho do artista, e a expressão bem clicada de cada rosto fotografado mexeram comigo de uma maneira profunda. Lembrei-me de quando fiquei meses internada em São Paulo e fui para Pittsburgh fazer reabilitação, e a primeira vez que sentei numa cadeira de rodas quando saí do centro para ir ao museu do próprio Andy Warhol.
A mesma Polaroid, mas agora com uma nova receptora, diferente daquela Mara que, na primeira vez, esforçava-se para respirar novos ares fora do planeta paralisia. Diferente da Mara recém-acidentada, dessa vez me vi nas cores de Warhol e na ousadia das poses, da ruptura de padrões… Hoje me sinto com uma vontade incrível de colocar cor na vida. E vejo que isso faz toda a diferença para produzir todos os dias.
Conheci um equipamento, por enquanto único no Brasil, que sintetiza muito bem essas emoções: o Armeu. Trata-se de um sistema mecânico que acomoda o meu braço e anula a força do atrito e da gravidade, oferecendo movimentos que praticamente nunca mais fiz desde que quebrei o pescoço. Notei então que, além de eu ter virado canhota, preciso reaprender a me mexer. Mas a descoberta mais incrível foi a de saber que somos capazes de movimentos que nunca imaginamos ter. Penso que o Armeo e o Andy Warhol têm significados parecidos na minha vida. Ambos me instigam a redescobrir uma Mara. Você já parou para pensar em quantas coisas pode fazer desde que busque a ferramenta certa? Ou a cor certa para pintar sua vida?
O Armeu trabalha com um sistema de realidade expandida, que funciona somente através do meu comando, mesmo sem dominar o movimento. Isso significa que depende de mim passar de cada fase imposta por ele. Ou seja, o ferramental me foi dado, mas a vontade de ultrapassar cada barreira, por mais simples ou complexa que pareça, brota da alma. Este aprendizado me proporcionou um repertório para curtir novas emoções, como aquelas que explodiram em minha mente e fizeram todo o sangue do meu corpo circular, quando vi pela segunda vez a exposição do Andy Warhol, mais colorido e ousado que nunca.