Por Mara Gabrilli
Com narcolepsia, doença que faz a pessoa adormecer em qualquer situação, Naomi Uezu, 47, desistiu de seu emprego no mercado formal para se tornar empreendedora. Ela tem seu próprio ateliê de kirigami (técnica para criação de figuras tridimensionais com papel) e desde que passou a cuidar da própria rotina, as crises, que são tipo apagões, são menos frequentes.
Para atingir um público ainda inexplorado na área da moda, um outro ateliê na cidade de São Paulo já investe na confecção de suas roupas com etiquetas em braile. A ideia é que os consumidores cegos possam saber a cor, tamanho e corte da roupa que estão comprando. A iniciativa é um exemplo de um nicho em que a economia criativa vem sendo explorada de maneira inteligente. Aliás, hoje, cerca de 10% do PIB da capital paulista é gerado neste campo.
Esses são apenas dois exemplos que mostram a relação do empreendedorismo e a inclusão. Fora do mercado de trabalho formal, grande parte dessa população passa a empreender. Com isso, além de uma forma de sustento, encontram um caminho para se inserir novamente na sociedade. Em São Paulo, por exemplo, é muito comum encontrar vendedores de rua e artesãos com deficiência. Muitas empresas pequenas também passaram a investir no consumo dessa população e empreender na área da inclusão.
Embora animador, o empreendedor no Brasil tem de lutar contra vários obstáculos. Em termos de informação, falta investimento na formação de pessoas com capacidade empreendedora. Nossa educação segue um modelo tradicional que não instiga a inovação e a criatividade, essenciais para quem quer empreender, ato que independe de ter uma deficiência.
Ao retornar de minha reabilitação nos EUA, resolvi fundar uma ONG: o Projeto Próximo Passo (PPP), hoje um braço do Instituto Mara Gabrilli (IMG), que nasceu com o objetivo de fomentar pesquisas para cura de paralisias e apoiar paratletas. Naquela época comecei a promover eventos para captar recursos para o desenvolvimento de pesquisas e apoiar competições de atletas com deficiência. Posso dizer que o empreendedorismo social praticado naquela época me alavancou para muitas atividades em minha vida, inclusive a política. Isso acontece com muita gente, que expande para outras áreas profissionais depois que adquirem o tão falado ‘espírito empreendedor’.
Buscar informação, conhecimento, bons contatos são essenciais para transgredir a lógica natural da vida e de nossas carreiras. Encarar os acontecimentos sob um ângulo diferente nos ajuda a encontrar soluções. A essência de empreender está neste olhar criativo e diferente que dedicamos a tudo que resolvemos fazer em nossas vidas.
Então, supere-se e desafie-se!