*Por Moritz Bierling
*Versão em portugûes: Marcio Tadeu Aurelio
Meus pais sempre quiseram ter uma filha e há uma frase que meu pai dizia com bastante frequência para ilustrar esse antigo desejo que é:” O desejo por uma filha é um pai de muitos filhos.”. Na verdade, essa esperança era tão forte que eles continuaram tentando mesmo depois que eu, seu filho mais velho, nasci – não uma, nem duas, mas três vezes! No momento em que meu irmão mais novo nasceu, além de ser muito custoso aos meus pais nos alimentarem, vestirem, mandarem para a escola, férias, etc, minha mãe também já tinha uma idade onde um novo parto poderia ser perigoso para a saúde da mãe e da criança.
Ela estava com pouco mais de 40 anos. A razão pela qual meus pais tentaram tantas vezes ter uma filha é que eles tinham experimentado em suas próprias vidas a força extraordinária que as mulheres são capazes de desenvolver, já que suas mães tinham sido mulheres fortes e independentes. Do lado paterno, minha avó tinha sido professora secundária nos anos 50, mantendo-se independente até que conheceu e, consequentemente, se casou com o meu avô. Do lado da minha mãe, “Omi” (como gostava de ser chamada) era farmacêutica e, com o marido como parceiro de negócios, teve uma farmácia de relativo sucesso. Como empreendedora, sabia das dificuldades de iniciar um negócio, não quebrar, e ganhar dinheiro suficiente para sustentar uma família de cinco pessoas. Ela sabia que esse tipo de vida requer sacrifícios e teve que fazer vários. Um exemplo simples: as farmácias alemãs são obrigadas por lei a terem um farmacêutico presente todo o tempo, e pagar outro farmacêutico era muito caro, o que fez com que ela e seu marido nunca poderem sair de férias juntos. Essa disciplina e compromisso pessoal me fizeram respeitar as mulheres por sua capacidade de trabalhar arduamente.
Minha mãe manteve esse padrão. Seus pais tiveram que se mudar muitas vezes na sua infância, o que fez com que mudasse de escola com bastante frequência e, consequentemente, só raramente tirava boas notas. Também era muito tímida e tinha dificuldade para falar na frente dos outros sem ficar corada. Quando foi examinada por um psicólogo num teste vocacional, ele disseque ela seria “costureira, no máximo“. Isso enfureceu tanto minha mãe que ela jurou para si mesma “Eu vou provar esse idiota está errado e fazer algo por mim mesmo!” O primeiro passo foi juntar-se a um grupo de teatro, onde aprendeu a superar sua timidez paralisante e parar de sentir vergonha de ficar corada. Em seguida, lançou uma campanha e ganhou a eleição como representante dos estudantes de toda a escola. Provavelmente, seu momento de maior orgulho foi quando fez o discurso de formatura para uma sala cheia de professores, pais e alunos, muitos dos quais haviam intimidado ela menos de um ano antes.
Quando entrou na universidade, ela sempre questionava o ponto de vista dos professores. Quando, em seguida, trabalhou na tradicional loja de leilões Christie’s, comprovou definitivamente que o psicólogo estava errado. Avaliar obras de arte proporcionou, definitivamente, um maior uso de seus talentos do que remendar calças jeans e tapar buracos em meias (atividades que ela gosta hoje em dia). Mais tarde, ao trabalhar para uma empresa de papel, foi uma pioneira, a única mulher entre um grupo de vendedores. Seu papel consistia em entrar em contato com agências de publicidade e departamentos de eventos de grandes empresas para o agendamento de reunião, e então convencê-los de que precisavam de seus produtos, que eram de altíssima qualidade, usados para convites de eventos, brochuras ou folhetos. Muito frequentemente, ela era a única mulher na sala, mas com o tempo se tornou tão confiante que, no final dessas reuniões, seus vendedores só tinham que pegar seus telefones e anotar os pedidos de vendas. Ainda hoje trabalha ativamente para tornar as coisas em torno de seu trabalho melhores e não tem vergonha de expor temas difíceis que ninguém quer falar. Nas reuniões de pais e filhos na escola do meu irmão mais novo, frequentemente chama atenção dos outros em suas tentativas de causar problemas. A maior lição que aprendi com ela é enfrentar os problemas de cabeça erguida e me manifestar quando não gosto para onde uma situação ou conversa está indo, mesmo quando ninguém concorda comigo. Geralmente, este é um dos únicos comportamentos que não são incentivados nas mulheres, por isso me sinto especialmente orgulhoso de minha mãe, por ser um modelo excepcional nessa área.
Tenho mais uma história sobre minha mãe: quando estava grávida de mim, trabalhava meio período em uma pequena empresa de compra e venda de arte. Assim que o proprietário descobriu que ela estava grávida, quis se livrar dela. Assim, ele usou um truque: pediu a minha mãe para trabalhar em tempo integral e como ela não poderia fazer isso, não havia outra escolha senão sair. Esta história ficou na minha cabeça como um exemplo de má cultura organizacional e comportamento desonesto de um empresário. Acredito que a única forma verdadeiramente sustentável para evitar que algo assim aconteça é ter mulheres que construam negócios de sucesso com uma cultura melhor que seus contrários. A maneira de termos mais mulheres que iniciem seu próprio negócio é mudar a sua atitude e dar-lhes as ferramentas necessárias. É por isso que programas como o Athena são tão importantes – mulheres que têm a intenção de ter um impacto real na vida, se unindo para trabalhar umas com as outras na construção de algo que se preocupam e na forma como gostam de fazê-lo.
As mulheres da minha vida são a prova viva de que as mulheres podem construir negócios rentáveis e têm um impacto real sobre aqueles ao seu redor, apesar de todos os opositores. E se eu tiver uma filha, serei muito feliz para brincar com ela com Barbie ou com carrinhos de brinquedo!
“The wish for a daughter is a father of many sons.” por Moritz Bierling
My parents always wanted a daughter and the quote above is what my father says quite frequently to illustrate this long held desire. Indeed, this hope was so strong that they kept on trying after I, their eldest son, was born – not once, not twice, but three times! By the time my youngest brother came to see the light of the world, not only would it have been too expensive to feed, clothe, send to school, and vacation with a fifth child (of whatever gender), but my mother had also grown old enough that any attempt would have been dangerous to the health of mother and child. She was a little over 40 then. The reason my parents tried so often to get a daughter is that they had experienced in their own lives what extraordinary strength girls and women are capable of developing, as both their mothers had been strong and independent women. On my father’s side, grandma had worked as a teacher and careers master in secondary school in the ‘50s, sustaining herself until she met and consequently married my grandpa. On my mother’s side, “Omi” (as her mother liked to be called) had studied pharmaceutical medicine and, with her husband as business partner, opened and run a rather successful pharmacy.
As an entrepreneur she knew how difficult it is to start a business, keep it from failing, and making enough money in the process to sustain a family of five. She knew that this kind of life requires sacrifices and she had to make quite a few of herself. A simple example: Because German pharmacies are required by law to have a studied pharmacist present in the store at all times, and paying another pharmacist was too costly, she and her husband never in their married life spent even a single vacation together. Pondering that kind of discipline and personal commitment produces a good measure of respect in me for women’s ability to work hard. My mother herself continues that pattern. Because her parents moved so often so early in her childhood, she had had to switch schools quite frequently and consequently only rarely got good grades. She also was very shy and had trouble speaking in front of others without her face turning red. When she was then examined by a psychologist to find out what career she could be suited for, he said “seamstress at most”.
This so infuriated my mother that she swore to herself “I will prove this idiot wrong and make something of myself!” The first step was joining a theatre group where she learned to overcome her crippling shyness and stop feeling ashamed of turning red. Next she launched a campaign for and won the election as student representative of the entire school. Probably the proudest moment of that time was giving the graduation speech to a hall full of teachers, parents and students, some of which had bullied her not even a year before. When she then went on to university, she happily questioned the professors’ point of view and examined their careless statements more closely than they felt comfortable with. When she then worked at Christie’s she had definitively proven the psychologist wrong. Verifying highly valued original art and estimating its value was definitely a higher use of her talents than repairing jeans and filling holes in socks (both activities she enjoys today). Later, in working for a paper company she was a pioneer of sorts, a woman amongst a group of salesmen. Her role consisted of contacting advertising agencies and marketing & event departments of big companies, scheduling a meeting, and then convincing them that they need her products, which were very high quality papers used for event invitations, brochures, or leaflets. Quite frequently she would be the only woman in the room, but over time she grew so confident that at the end of these meetings her sales agents only had to sit at their phones and write down sales orders.
Even today she is still actively working to make things around her work better and is not ashamed of bringing up the difficult topics nobody wants to talk about. In the parent teacher meetings at my youngest brother’s school she frequently calls out others on their attempts to cause trouble. The greatest lesson I’ve learned from her is confronting a problem head on and saying something when I don’t like where a situation or conversation is going, even when nobody agrees with me. Usually this is the one behavior women are not encouraged to engage in, so I am especially proud of my mother for being an exceptional role model in this area.
I have one more story about about my mother: when she was pregnant with me, she was working part-time at a small company buying and selling art. As soon as the owner found out she was pregnant, he wanted to get rid of her. So he used a trick: he asked my mother to work full-time and because she couldn’t do that, there was no choice than to quit. This story has stuck in my mind as an example of bad organizational culture and dishonest behavior of a business owner. Now I believe that the only truly sustainable way to prevent something like this from happening is having women build successful businesses with a better culture that outcompete their counterparts. The way to get more women to start their own business is by changing their attitude and giving them the necessary tools.
This is why programs like Athena are so important – women who are intent on having a real impact in life coming together to work with each other on building something they care about in the way they enjoy doing it.
The women in my life are living proof that women can build profitable businesses and have a real impact on those around them, despite all naysayers. And should I ever have a daughter, I’ll be happy to play both barbie dolls and toy cars with her.