Por Deborah Munhoz
Viajando pelo Brasil a trabalho, sempre me perguntei por que grande parte das empresas não tem a beleza, a organização e a limpeza como um valor intrínseco na sua gestão. A feiura e a desordem ficam muitas vezes maquiadas, aparecendo logo quando você tem acesso às áreas onde os clientes não vão. Esta impressão foi aguçada quanto tive a oportunidade de coordenar um projeto Brasil-Alemanha e outro de Produção Mais Limpa. Me perguntava se era um incômodo somente meu, como mulher, observando aquelas empresas comandadas maciçamente por homens.
Nasci em um estado muito machista (Minas Gerais) e estudei entre engenheiros, em que a preocupação com a estética é frequentemente desdenhada como “coisa de mulherzinha”, “coisa de arquiteto e desnecessária, sem utilidade”. “O que importa”, diziam, “é a utilidade e a praticidade.”
Segui observando a feiura presente em muitos espaços: o mau acabamento das construções, a cultura do “puxadinho”, o não investimento mínimo em projeto arquitetônico, a sujeira nas mãos dos mecânicos no final do turno, os farelos de pão no chão da cozinha, a falta de cuidado das áreas verdes, sem falar do estado dos banheiros de restaurantes e cafés. O cenário muda quando você está em São Paulo e avança em direção ao Sul do país, mas, de maneira geral, a desorganização, a falta de estética, o mal acabamento e a má qualidade é o que impera no país.
E o que acontece com a saúde e a psicologia de quem é sistematicamente exposto à feiura? Adoecimento, depressão, falta de prazer na vida, falta de motivação, são alguns sintomas. Raras são as empresas nas quais a beleza e o cuidado são valores que permeiam todas as áreas, incluindo o conforto e bem-estar dos seus empregados independentemente do setor que ocupam. Entendi que o valor estético era possível mesmo em uma sala de máquinas localizada a 300 m de profundidade, quando visitei a cava de uma grande mineradora. A sala era absolutamente limpa, bem iluminada, cuidadosamente pintada.
O filósofo Roger Scruton me ajudou a entender que não estou só neste incômodo. Ele explica que, até o século XIX, a beleza, assim como a verdade e a bondade, era um valor para a sociedade. No início do século XX, a beleza foi perdendo lugar para a utilidade das coisas. Isto afetou profundamente toda a nossa sociedade que, gradativamente, foi perdendo a capacidade de contemplar o belo e adquirindo hábitos mais rudes e egoístas. Scruton propõe o retorno do belo como caminho para a cura do estado mórbido em que se encontra nossa sociedade.
Eu proponho a valorização da beleza, da organização, da estética equilibrada com a ética na gestão das empresas, como um caminho para a saúde e bem-estar do ambiente de trabalho. Ética (do grego “ethos” = modo de agir, de se colocar no mundo) e estética (estudo do belo) andam juntas. A beleza também está ligada à justiça: cada coisa no seu devido lugar e na devida proporção. “Estética para o Corpo e Ética para Alma”, dizia Platão. Com esta frase, Platão ensina que o exterior deve estar equilibrado com o nosso interior.
A estrutura física da empresa deve estar equilibrada com sua alma. Não é só uma questão de produzir e vender mais, mas produzir e trabalhar melhor, do uso justo da matéria prima, da harmonia das relações humanas. Se você quer um país mais ético, comece a cultivar a ética e estética dentro do seu ambiente de trabalho, dentro de sua casa, dentro de si mesmo(a).
Para saber mais: A Importância da Beleza – Roger Scruton https://vimeo.com/73344145