Participo há 2 anos de um grupo no Linkedin, chamado MULHERES de NEGÓCIOS, que tem como idealizadora e excelente regente Gladis Costa.
E em 2010 o grupo me motivou em algumas ações empreendedoras e escrevi o texto que segue abaixo:
” Buscando na literatura um mulher que um dia esteve a frente de seu tempo nos negócios encontrei a DAMA DO NEGÓCIO Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin. Ela inventou o riddling rack (inclinação gradual das garrafas até a vertical), que permitia o dégorgement (degolação, eliminação) de restos de levedura e sedimentos do vinho num processo de purificação da bebida, produzindo o champanhe tal como se conhece hoje, expandiu seus negócios pelo mundo e criou um pioneiro sistema de distribuição de lucros entre os funcionários – no século XIX! A viúva Clicquot deu novo significado à expressão “mulher de negócios”.
Sempre que a aristocracia européia do século 19 queria brindar com a mais pura espuma fervilhante de champanhe, pedia “la veuve” (a viúva). Não era preciso dizer mais. Todos sabiam que a senhora em questão era uma garrafa de Veuve Clicquot, o único espumante da época cristalino, doce na medida, cujas bolhas formavam delicada coroa ao chegar à borda da taça. Ainda hoje, por conta de sua invisibilidade nos eventos onde seu nome era tão “aboreado”, poucos sabem que foi a primeira grande empresária internacional, responsável por transformar o vinho espumante em símbolo de bebida de luxo.
Dela restou uma só imagem, estampada desde 1972 na tampa de metal dos 8 milhões de garrafas produzidas anualmente pela maison. O retrato, pintado na década de 1860 por Léon Cognie, mostra uma octogenária vestida de negro. A imagem não condiz com a empreendedora batalhadora, muitas vezes temerária, que fez de uma pequena empresa familiar um império proprietário de 275 hectares dos melhores vinhedos da região de Champagne. Sua história está relatada no livro A Viúva Clicquot – A História de um Império do Champanhe e da Mulher que o Construiu (Ed. Rocco)da historiadora americana Tilar J. Mazzeo.
Barbe-Nicole Ponsardin nasceu numa das mais ricas famílias de Reims. O pai, Nicolas, fez fortuna no ramo têxtil (faturava o equivalente a 800 mil dólares por ano) e planejava para a primogênita um casamento com título de nobreza. A derrubada da monarquia pela Revolução Francesa em 1789 acabou com o sonho e ameaçou a vida da menina, de 11 anos, assim como a de toda a burguesia, identificada como inimiga do povo. Foi graças à ajuda da costureira da família que ela conseguiu fugir antes da invasão do Convento Real de Saint-Pierre-des-Dames, tradicional escola da elite. Disfarçada de camponesa, Barbe-Nicole atravessou a pé a cidade com sua salvadora, que a escondeu em casa, na segurança do subúrbio pobre. É fácil imaginar que aquele verão sangrento tenha influenciado sua decisão de assumir riscos quando se tornou maior. A genética também contribuiu. Dos três filhos de Nicolas, aquela ruivinha de olhos acinzentados foi a única que herdou sua capacidade de se adaptar às circunstâncias. Apesar de monarquista e católico fervoroso, monsieur Ponsardin conseguiu cair nas graças do novo governo republicano, que considerava a religião um crime. Assim, conservou a cabeça, o prestígio e a fortuna. Manteve a mansão na praça principal de Reims, onde foi realizada em 10 de julho de 1798 a cerimônia secreta do casamento religioso de sua filha com François, herdeiro do milionário produtor têxtil Philippe Clicquot.
Vizinhos desde a infância, imagina-se que os noivos fossem amigos, o que explicaria a cumplicidade do casal. Um sonhador e violinista talentoso com tendência à depressão, François não se interessava por tecidos; queria construir fortuna com o comércio de vinhos, negócio da família relegado a segundo plano. Os recém-casados quase nada sabiam de vinho, mas uniram forças e terras num plano ambicioso: abastecer o promissor mercado russo com o forte e adocicado espumante da região, muito ao gosto do czar Alexandre I. A contratação do entusiasmado Louis Bohne, vendedor alemão com rara habilidade para fechar negócios, animou os jovens a investir o que tinham na produção de uma bebida fina e exclusiva, o champanhe Clicquot. Temeridade para uma vinícola desconhecida, agravada pelo fato de que, quando o primeiro carregamento ficou pronto para a venda, em 1803, Napoleão mergulhou a Europa num conflito que duraria 12 anos. Já não havia compradores nem dinheiro para bebidas finas – especialmente as francesas. Assim, entre as primeiras vítimas das guerras napoleônicas, estavam a empresa dos Clicquot e o próprio François. Sua morte em 23 de outubro de 1805 foi atribuída à febre tifoide, mas circularam boatos de que teria cortado a garganta em desespero pela falência iminente. Só aos 27 anos e com uma filha de 6, Barbe-Nicole fez o que na época apenas a viuvez permitia a uma mulher: assumiu os negócios. O pai e o sogro deram-lhe apoio moral e financeiro com a condição de ter como sócio um amigo das famílias, o rico produtor vinícola Alexandre Jérôme Fourneau. Aceitou.
O que não dava para engolir era o bloqueio às exportações imposto à França pelos portos europeus. Diz sua biógrafa que a viúva “começou a brincar com a idéia” do contrabando. Foi mais: até 1810, seu espumante chegou às cortes inimigas e às poucas aliadas a bordo de navios que não poderiam transportá-lo. Financeiramente o risco não compensou, mas as garrafas tornaram conhecido e apreciado o vinho da viúva Clicquot. Não foi o suficiente, porém, para manter a fé de monsieur Fourneau, que abandonou a sociedade depois de embolsar o capital que tinha investido. Barbe-Nicole estava sozinha. Então, na primavera de 1811, um grande cometa atravessou o céu do Hemisfério Norte, anunciando, segundo a crença popular, a melhor vindima de todos os tempos e o fim da guerra. A primeira previsão estava correta. Para manter viva a agora Veuve Clicquot Ponsardin e Companhia até que a segunda promessa se concretizasse, madame produziu vinho tinto barato para o mercado interno, vendeu todos os colares de raras pérolas rosadas e um fabuloso diamante avaliado em 60 mil dólares (valor atual), dispensou funcionários, encheu as adegas com a fabulosa safra 1811 e… esperou. A hora de agir chegou em abril de 1814, quando Napoleão abdicou. Para ser a primeira a chegar aos mercados que se abririam em breve, mesmo correndo o risco de não ter como pagar o frete dos navios, Barbe-Nicole embarcou sua carga antes de a paz ser assinada. Quando o czar Alexandre I anunciou o fim do embargo à França, 10 550 garrafas de Veuve Clicquot 1811 já estavam no porto prussiano de Königsberg (perto de São Petersburgo) e outras 12 780 a caminho. Disputadas a peso de ouro, foram vendidas pelo equivalente a 100 dólares cada uma. Foi o único champanhe servido no aniversário do rei da Prússia e saudado como o melhor do mundo – e começou a tornar madame uma das mulheres mais ricas da época.
Menos de dois anos depois ela faria com que todos se curvassem também à sua competência técnica ao inventar o remuage, processo usado até hoje para melhorar a qualidade do champanhe removendo os resíduos que o deixam turvo e, com isso, diminuir o tempo e os gastos de produção. Por quase uma década, essa descoberta seria mantida em segredo graças ao respeito que ela inspirava e a um sistema de participação nos lucros a empregados em posições-chave. Além do trabalho, a viúva tinha três paixões: romances de cavalaria, comprar e decorar casas e homens jovens e bonitos. Ao se aposentar, aos 64 anos, em 1841, deu 50% da Clicquot a um de seus protegidos, Édouard Werlé, um alemão que ela preparou para sucedê-la. Madame sabia não ter herdeiros para tocar os negócios (verdade: após sua morte, a casa foi administrada por Werlé e seus descendentes até ser comprada, em 1986, pelo grupo multinacional Louis Vuitton Moët Hennessy). Só a bisneta Anne mostrava tino comercial, mas preferia moda a champanhe. Para ela, escreveu uma carta que é um autorretrato: “Minha querida (…), você, mais do que ninguém, se parece comigo, pela audácia. É uma qualidade que me valeu muito… hoje sou chamada a Grande Dama do Champanhe! O mundo está em perpétuo movimento e precisamos inventar o amanhã. É preciso passar à frente dos outros, ter determinação e exatidão e deixar a inteligência conduzir sua vida. Aja com audácia”.
Barbe-Nicole morreu em 29 de julho de 1866, aos 89 anos, em seu castelo em Boursault, vale do Marne. Na época, 750 mil garrafas Veuve Clicquot eram vendidas no mundo inteiro. Realizara o sonho do marido François e até o de seu pai: todas as mulheres da família ostentavam títulos de nobreza – as irmãs por casamentos; ela porque, como disse o escritor Prosper Mérimée, era “a rainha não coroada de Reims”. ”
Abreijos de felicitações, admiração e bons negócios a nós : MULHERES de NEGÓCIOS e MULHERES do EMPREENDEDORISMO ROSA
Lênia LUZ
Nenhum comentário “Mulheres de Negócios”
Corajosa e inteligente dois ingredientes necessários, para a mulher empreendedora! Excelente !!!!!
Obrigada pela sua visita e comentário Rosane!