A Liderança feminina também é assunto prioritário na Barnard College, faculdade privada de artes liberais para mulheres com sede em Nova York e filiada à conceituada Universidade de Columbia, que está promovendo vários simpósios ao redor do mundo. Março foi a vez do Brasil ser palco de uma proveitosa discussão sobre o passado, o presente e, principalmente, o futuro feminino. Aproximadamente 200 mulheres brasileiras, de diferentes faixas etárias e setores da economia, sentaram, lado a lado, com estudantes e professores da própria Barnard, num evento das 11 às 18 horas, no luxuoso hotel Grand Hyatt, em São Paulo.
Nosso grupo, do Empreendedorismo Rosa, estava lá para participar das principais discussões e mensagens, interagir e fotografar com as palestrantes, falar um pouco de quanto o empreendedorismo ganha força no Brasil diretamente à reitora da faculdade: a simpática, curiosa sobre as brasileiras, e inteligentíssima Debora Spar. Eu, quando peguei o microfone durante um dos painéis, contei a ela que metade dos empreendedores no Brasil são mulheres. E que esse número só tende a crescer.
O evento “Mulheres que Mudam o Mundo” aconteceu anteriormente na China, África do Sul, Índia, marco no Brasil, e o próximo deverá ser em Moscou. Daí, espera-se um grande encontro com participantes das várias nações em Nova York. Nós, do Empreendedorismo Rosa, ficamos animadas para estar lá em 2015. Já pensou?
Destaco alguns comentários das participantes do evento a fim de despertar boas reflexões:
- Indagada sobre qual conselho a reitora Debora Spar daria a uma jovem em início de carreira, ela deu esta boa resposta: “Trabalhe duro e seja muito boa no que faz. Não passe muito tempo pensando no fato de que você é mulher. Ao mesmo tempo, não tenha medo de dizer se você acha que está sendo mal tratada pelo fato de ser mulher”.
- No discurso de abertura da Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci contou que é muito inspirador, a cada brasileira, ter uma mulher na presidência. Ela disse que hoje várias meninas da periferia respondem que querem ser presidentas no futuro também. Ter essa figura no lugar máximo do poder ajuda a mudar a mentalidade de que lugar de mulher é só no tanque ou no fogão.
- A cineasta Katia Lund, co-diretora do premiado filme Cidade de Deus, declarou: “Não acredito numa cultura que não considera o ponto de vista feminino”.
- A grafiteira Panmela Castro não só se assumiu feminista como deu exemplos de como educa as mulheres a rebaterem a violência doméstica. Ela, que passou por isso no passado, incentiva especialmente as meninas a se expressarem pelo grafite como forma de consciência dos direitos femininos. Perguntou, provocativa: “A minha luta é a do grafite. Qual é a sua?”
- Já Mayra Neves, estudante e ativista, relembrou que as mulheres africanas já foram muito poderosas. E prega que cada um tem a sua verdade, e que a diversidade deve ser valorizada para promover mais diálogo e compreensão entre os povos. Sugeriu: “Buscar conhecimento vai fazer com que você caminhe, segura de sua batalha”, disse ela, que não se considera feminista.
Parada para um delicioso almoço, em que o networking foi maravilhoso. E mais: difícil resistir à mesa de sobremesas!
Novo painel, agora com cientistas, conduzido com a jornalista que eu admiro muito, Monica Waldvogel. Duilia de Mello é astrônoma da NASA, mora e trabalha nos Estados Unidos e orienta atualmente 16 alunos brasileiros do elogiado Programa Ciência sem Fronteiras. Mayana Zatz é geneticista de renome, da USP. As duas declararam não haver discriminação em relação à mulher que opta por ser cientista.
Mas Duilia reclamou da falta de incentivo às meninas para estudarem matemática. “Precisamos acabar com esse estereótipo”. E lembrou que nunca deveria ter existido uma Barbie que dizia “Matemática é difícil” quando a menina apertava sua barriguinha.
Mayana, ao ser questionada sobre a qualidade do ensino brasileiro, disse a coisa mais acertada do mundo, na minha opinião: “As escolas precisam ensinar o aluno antes de tudo a pensar. As que fazem isso estão no caminho certo hoje”.
No último painel do evento, para discutir liderança feminina, fez muita falta a ex-ministra Nilcéia Freire, atualmente da Fundação Ford, previamente convidada, mas impossibilitada de comparecer por algum motivo, talvez doença. Ouvimos, então, a jornalista Maria Cristina Frias e a CEO da GE Brasil Adriana Machado, mediadas pela reitora Debora Spar.
Adriana destacou a importância das mulheres aprenderem a fazer networking e trabalharem sem que isso implique abandonar os filhos. E contou que, numa reunião com homens, um deles não percebeu quem era ela e pediu para que buscasse um café. Depois, quando a viu discutindo sobre a pauta da reunião com grande propriedade, morreu de vergonha. “As mulheres não devem ter vergonha de querer o poder”, disparou.
Maria Cristina falou de flexibilidade, palavra essencial em qualquer discussão hoje sobre a ascensão feminina.
Um beijo.
Joyce Moysés é consultora e jornalista especializada em comportamento feminino, escritora e palestrante de liderança feminina. Fez vários cursos nas áreas de gestão e liderança, como o de Gestão de Negócios no Insper. Nos últimos 25 anos trabalhou nas revistas Nova e Claudia, e já escreveu artigos para Alfa, Máxima e Você S/A. Em 2010, participou do lançamento do Movimento Habla, para mapear tendências de comportamento das mulheres. Em 2012, coordenou o Prêmio Claudia e editou Claudia Noivas e Claudia Bebê. MULHERES DE SUCESSO QUEREM PODER… AMAR é seu primeiro livro. Atualmente faz palestras, produz conteúdo para publicações impressas, multimídia e eventos, escreve seu segundo livro, participa de programas de tevê e é parceira do projeto De Peito Aberto.
Nenhum comentário “Quando muitas mulheres se juntam, vai dar… discussão das boas!”
excelente reportagem Joyce.