O termo ‘empreendedorismo social’ é novo. Emerge no cenário dos anos 90, quando os problemas sociais mundiais tornam-se crescentes e, devido à incapacidade governamental de resolvê-los, há um aumento no número de organizações do setor social. Segundo a Artemísia, negócios sociais são “empresas que, por meio da sua atividade principal, oferecem intencionalmente soluções para problemas da população de baixa renda”.
O projeto Brasil27 está percorrendo o país na tentativa de mapear os negócios sociais de nossos estados. Nesta semana, eles conheceram a cooperativa ‘Justa Trama’, localizada em Porto Alegre (RS) e presidida por uma empreendedora de muita fibra: Nelsa Inês Fabian Nespolo. Filha de agricultores, ela iniciou suas atividades de militância no Movimento da Juventude Operária Católica e teve como inspiração os ensinamentos de Paulo Freire, buscando mudanças para a realidade social dos trabalhadores fabris. Nelsa ainda fez parte do movimento sindical, foi conselheira e delegada do orçamento participativo em Porto Alegre.
As experiências de Nelsa como costureira e seu posicionamento político-ideológico provaram-lhe a necessidade de empreender fora do ambiente das fábricas, em que muitas pessoas trabalhavam muito e o lucro da produção ficava inteiramente nas mãos dos empregadores. Assim, ela e mais algumas mulheres fundaram a cooperativa de costureiras Unidas Venceremos – Univens, que juntamente com outras cooperativas, criaram a cooperativa Central Justa Trama, responsável pelo gerenciamento de toda a cadeia produtiva do algodão agroecológico (plantio, fiação, tecelagem, confecção e venda de roupas), envolvendo seis estados brasileiros e beneficiando mais de 700 pessoas com remuneração justa.
A força por trás do empreendimento veio através da inovação proposta por Nelsa e suas companheiras: em vez de comprar tecidos prontos no mercado, optaram por comprar de cooperativas de tecelagem que, por sua vez, compravam os fios de uma cooperativa de fiação, que tinha contato com cooperativas de plantio. Utilizando os princípios da economia solidária, a Justa Trama oferece produtos mais baratos que os produtos tradicionais da mesma linha. Além de impactar positivamente a vida de seus consumidores, Nelsa faz questão de que seus produtos possam ser adquiridos por seus colaboradores.
A Justa Trama é mais do que um exemplo de sustentabilidade e responsabilidade social. É fruto de um esforço coletivo pautado na experiência de uma empreendedora social de garra, coragem e ideais. Nelsa Inês Fabian Nespolo é mais do que a representante da melhoria de vida de vários cidadãos brasileiros. Ela representa uma mudança de mentalidade social e econômica que começa a tomar espaço no Brasil, no mundo e que busca soluções às mazelas sociais. E, principalmente, representa as mulheres brasileiras, que a cada dia adquirem mais espaço de forma digna e meritocrática, servindo de exemplo às novas gerações de mulheres que ainda estão por vir. Parabéns, Nelsa! Obrigada por lutar por todas(os) nós!
Irina Cezar