Por Helena Bimonti
Confesso que, ao ser convidada para expor no Empreendedorismo Rosa, me senti ligeiramente insegura, considerando que nunca havia publicado em sites direcionados a públicos específicos (e que são bem diferentes dos periódicos jurídicos com os quais estou acostumada). Deixando esta insegurança de lado, resolvi encarar como um novo desafio, e reservo este primeiro post para me apresentar de maneira breve. Para aqueles que já me conhecem, não será novidade, mas para os que estou conhecendo agora, o aposto que melhor me define atualmente: “advogada apaixonada pelo que faz”. Parece clichê, mas não é.
Quando entrei na faculdade de Direito, anos atrás, foi em meio à incerteza inerente a juventude. Levou muito tempo para “pegar gosto” (quase os 5 anos do curso, para ser sincera). Felizmente, os fatos que se sucederam fizeram com que eu me apaixonasse pela área jurídica, e fosse precocemente aprovada no exame da Ordem dos Advogados (antes mesmo de me formar, o que foi bastante irônico na época: eu havia passado com ótima nota em uma prova sabidamente difícil, e ainda assim não podia ser advogada, pois não havia finalizado o curso).
De lá para cá, foi uma pós-graduação lato sensu, diversos cursos de extensão, e um mestrado em andamento, o que evidencia minha paixão pela área acadêmica, na qual sou realizada. Contudo, no campo profissional, durante muito tempo estive infeliz. Trabalhei em grandes empresas e escritórios considerados os melhores do país, e sentia que faltava algo. Para quem não é do meio jurídico, explico um pouco como as coisas funcionam: são jornadas intermináveis, de 15 horas por dia, família esperando em casa, com o “doutor” chegando 23h todos os dias e perdendo grandes momentos. Raramente há espaço para liberdade de pensamento, uma vez que é inconcebível um advogado ter uma ideia “melhor” do que seu superior hierárquico. Ganha-se bem, mas perde-se em qualidade de vida. Chega um momento em que o bolso está cheio, mas a mente e o corpo não aguentam.
Em um destes momentos frustrantes, resolvi arriscar e empreender em meu próprio benefício: abandonei um cargo de coordenadora de área em um escritório bastante renomado, para abrir meu próprio escritório, junto com dois outros sócios. Adquiri expertise em aviação civil, e, para não me afastar das demais áreas, fui atrás de profissionais igualmente qualificados. Já se passaram dois anos desde esse dia e o que eu posso dizer é: qualquer profissional que se sujeite a isto deve juntar um dinheiro de investimento antes e estar preparado para ser forte e persistente, pois o começo realmente não é fácil (quem fala que é está mentindo, ou foi beneficiado com herança). A instabilidade de não saber o amanhã, se haverá clientes, é agonizante. Contudo, quando se faz um trabalho bem feito, a melhor propaganda é o “boca a boca”, as coisas fluem, acreditem, palavra de quem arriscou (e penou no começo).
Atualmente, não vou mentir, ainda existe a incerteza (sempre irá existir no ramo de prestação de serviços). Mas a liberdade de escolher seu próprio horário, trabalhar de qualquer lugar, e poder estudar com carinho, e elaborar a melhor estratégia para cada cliente, compensam qualquer insegurança. Continuo trabalhando até de madrugada. Mas com gosto, com paixão pelo que faço, e não por necessidade. Hoje quando me perguntam o porquê de eu ter saído da minha antiga e confortável vida de subordinada, para empreender meu próprio negócio, tenho a resposta na ponta da língua: “Porque eu cansei de me matar para viver o sonho de outras pessoas”.