Por Marcelo Grassano
Nunca me considerei um bom corredor. Quando criança, velocidade não era o meu forte e o fôlego era prejudicado pela asma. Evitei o esporte até meus vinte e poucos anos, quando recebi convite de um amigo para corrermos juntos. Era uma época em que as corridas de rua começavam a ganhar mais adeptos, mas eu achava que participar de provas não era para mim.
Mesmo assim, decidi acompanhá-lo e logo convidei outros amigos. Fui ganhando confiança e senti que poderia participar de uma corrida de rua, com 10 km de extensão. Quase desisti antes de sair de casa, mas fui porque tinha um compromisso com os amigos. Durante o percurso, falava para mim mesmo: “se não conseguir chegar, não tem problema, afinal, você nunca correu 10 km, isso é só diversão”, mas ficava apavorado em pensar qual seria minha vergonha para contar que não consegui.
Fiz a prova, cheguei muito cansado, mas não parei, não andei, não desisti! Talvez pudesse até ter feito o percurso em um tempo mais curto, se não tivesse pensando tanto na minha possível vergonha. Depois de algumas provas, percebi que não adiantava me preocupar com o tempo que meus amigos levavam para completar a prova. Também não adiantava me preocupar se tinha crianças ou idosos me ultrapassando. Pois estas preocupações desviavam minha energia e tiravam o meu foco que deveria ser “buscar O MEU MELHOR ritmo”!
Quando me dei conta disso, minha ambição não era mais acompanhar um amigo ou ser melhor do que outro, era ser melhor do que eu tinha sido antes!
Em meio a corridas, treinos e reflexões, cheguei à decisão que gostaria de empreender. Larguei meu emprego, ainda sem muita certeza do que fazer, mas com a confiança de que se me esforçasse poderia dar certo.
Assim que comecei a me aventurar; lembrei que nunca tinha sido um bom vendedor. Ao contrário dos amigos que alugam gibis ou vendiam “geladinho”, eu emprestava meus gibis e queria que os amigos viessem fazer o geladinho comigo e por isso não tinha “clientes”.
Mais uma vez a sombra de uma memória do passado me travou: “não vou conseguir”, “não é meu perfil”. E foi num momento de quase desistir que lembrei da corrida! Aprendi correndo que técnicas são importantes e a busca de referências é válida, mas que se superar e procurar o seu ritmo é o que fazem você ultrapassar a linha de chegada.
Não me comparo mais com pequenos empresários prodígios nem com grandes empresários de sucesso. Apenas tento ser melhor hoje do que fui ontem!
Como muitos empreendedores, às vezes penso em desistir, largar tudo que construí até agora. Mas quando me lembro das retas finais das corridas e daquelas pessoas que estão ali só para assistir ou ainda já terminaram a prova e estão incentivando quem está buscando seu último fôlego para cruzar a linha de chegada! E como nas corridas sempre vale a pena o último esforço porque é passando a linha de chegada, que vem a recompensa: frutas, medalhas, confraternização e tempo para recuperar o fôlego até o próximo desafio!