Por Natália Menhem
Olá pessoal! Em primeiro lugar, um maravilhoso 2014 para todos. Esse ano percebi que o que mais desejei às pessoas foi que 2014 fosse de fato um ano NOVO. Isso porque, mais do que saber o que virá pela frente – que isso já é coisa para cartomantes, videntes etc e tal – eu espero que consigamos ser novos em nossas soluções para a vida, novos nas histórias que contamos de nós mesmos e da sociedade e, então, novos nas histórias que vivemos. Esse meu desejo parte de uma vontade de viver uma nova sociedade e de poder contar aos meus filhos e netos histórias diferentes das que são contadas hoje. Se esse desejo se concretizar, não ouviremos ninguém repetindo que a miséria, a desigualdade extrema de oportunidades ou a falta de dignidade humana são males inevitáveis. Aliás, se esse desejo se concretizar como eu espero, meus netos nem saberão o que é miséria – nem mesmo de espírito. Também não ouviremos mais casos de violência, e quando eu contar que tínhamos, meus netos vão me questionar: “Mas que sentido fazia, vovó, que nós matássemos os nossos semelhantes?”
Pois bem, esses são de fato meus desejos para 2014: novas atitudes, novos feitos, novos pensamentos, novos modos de encarar a vida. Sem miséria, sem violência, sem desrespeito. E vejo que quando os compartilho, recebo olhares quase piedosos de “Tadinha, essa é sonhadora mesmo”. Algumas vezes já me pus a pensar se melhor não seria me adequar ao mundo dos “sem grandes sonhos”, os chamados realistas (ou pessimistas), tomar a espécie humana por um experimento dado mesmo à catástrofe e viver uma vidinha assim mais ou menos, sem grandes pretensões.
Por sorte (sim, me considero uma pessoa de sorte e tenho uma grande amiga que tem certeza absoluta disso!), sempre cruzo, a tempo, com pessoas que me fazem ter certeza que o sonho grande é o caminho. E não é o caminho porque sonhar é prazeroso não. É o caminho porque eu ainda não conheci sensação mais gostosa do que ver um sonho se realizar e o sonho, meus caros e minhas caras, é apenas o primeiro passo para ver brotar essas realizações. Não tive sempre essa convicção, era só um sentimento. Uma das pessoas que me ensinou isso de forma muito esclarecedora – sem deixar dúvidas – é alguém especialíssima, de quem escrevo hoje com muita emoção – pois nos despedimos dela no último dia 14 de janeiro: a dona Valdete, fundadora do grupo Meninas de Sinhá (do qual falei por aqui na coluna de novembro). Conheci a dona Valdete há dois anos. Trabalhamos juntas por alguns meses na consolidação do regimento interno das Meninas de Sinhá e no alinhamento estratégico das próximas ações do grupo. A dona Valdete compartilhou um sonho dela tão visceralmente comigo, que hoje falo dele como se fosse meu: o da sede das Meninas de Sinhá. Andei bem emocionada esses dias todos, de um lado pelo mundo ter perdido essa pessoa tão brilhante e transformadora, de outro por eu ter sido tão enormemente sortuda de tê-la conhecido. Hoje, em sua missa de sétimo dia, vi várias pessoas como eu: contando como se sentiam abençoadas ou sortudas por terem tido a chance de conhecerem a dona Valdete. Várias mulheres contaram como a Valdete mudou suas vidas, a Patrícia Lacerda, produtora do grupo, contou como a Valdete tirou várias delas da depressão ou de estados emocionais extremamente frágeis. Seu neto, Felipe, contou como a avó sempre acreditou nele e em seus sonhos – acreditava e ajudava-o a realizar. Uma líder comunitária contou que nem sabia contar quantas pessoas agradeceriam à dona Valdete por hoje terem suas próprias casas.
Eu acho, que no fundo, tudo o que a dona Valdete fez foi visceralmente humano. Ela teve coragem de viver, totalmente, a humanidade que nos é dada, mas que demanda trabalho e coragem para ser vivida. Essa humanidade passa por um amor desmedido pela vida e pelas pessoas. Pela empatia com essas pessoas, o entendimento de suas alegrias e de suas tristezas ou mesmo a simples vontade de se chegar a esse entendimento. O se deixar tocar por outras realidades, boas e ruins. A convicção de nosso papel como transformadores constantes das realidades ruins – que DEVEM ser mudadas. O engajamento natural, como condição de sermos seres sociais. E, principalmente, o sonhar junto, em um junto que varia de dois, vinte, cem ou mil pessoas. Sonhar com uma realidade bem diferente daquelas adversas que a dona Valdete viu em sua trajetória como líder comunitária no Alto Vera Cruz, e se saber responsável por um trabalho longo de construção da nova e sonhada realidade.
Dona Valdete fez isso tudo, sabe-se lá se sabendo da importância do que estava fazendo ou simplesmente por saber que era o que tinha que ser feito. E deixou vários aprendizados, mais que de empreendedorismo ou de transformação social, de nos mostrar outras formas de sermos (mais) humanos.