Por Natália Menhem
O Dia Internacional da Mulher, que comemoramos em Março, é uma homenagem às 130 mulheres que morreram carbonizadas em uma fábrica em Nova Iorque, em 25 de março de 1911, às 90 mil operárias que saíram às ruas da Rússia no dia 08 de março de 1917 para protestar contra as más condições de trabalho, a fome e a participação da Rússia na primeira Guerra Mundial, e a todos os movimentos feministas que vinham acontecendo desde o fim do século XIX em prol do sufrágio universal, de melhores condições de trabalho e do fim do trabalho infantil.
Quando uma atrocidade como a do dia 25 de março de 1911 acontece, ela deflagra um caminho inteiro construído sobre atrocidades, e, apesar disso ficar bem claro na hora do choque, na volta ao dia a dia, os interlocutores que criaram a lógica, na qual nasceu aquela atrocidade, agem com força total na tentativa de reforçar seus pontos de vista, enquanto aqueles que sofrem com a evidência do óbvio ainda se permitem ao luxo da dúvida de seus próprios valores. Sim, pois diante de um discurso tantas vezes repetido, as atrocidades vão se justificando minuto após minuto, dia após dia, enquanto não vemos como é fácil se acomodar às histórias já contadas – ainda que atrozes elas vêm prontas, com princípio, meio e fim.
Pois bem, o meu convite é para que não nos esqueçamos (e esse nós é para nós seres humanos, homens e mulheres, pois o caminho só será realmente “nosso” se o pensarmos juntos) das atrocidades que nos têm sido contadas ao longo dos anos. Que tal se nos arriscarmos ao delicioso exercício de imaginar outras formas de sociedade? Menos preconceituosas e menos pré-moldadas, pois a moldagem da sociedade que queremos é feita todos os dias, diariamente. O atual modelo não nos serve: nem às mulheres, nem aos homens; nem aos negros, nem aos brancos, nem aos indígenas; nem aos ricos, nem aos pobres. O modelo atual de sociedade não nos serve, pois ele ainda nomeia a maior parcela da população como “minorias”. E ainda fala de “tolerância” com os diferentes e não de uma sociedade de fato inclusiva, onde haja espaço para todos.
Mudar paradigmas é isso: teimar contra uma série de regras já definidas e contra todos os que as defendem a ferro e fogo, simplesmente porque, por serem já experimentadas na sociedade, parecem inabaláveis e corretas. Teimar contra nós mesmos, onde nossos preconceitos e o nosso ego estejam nos afastando da convivência, da compreensão e da empatia com aqueles que tanto se assemelham a nós. Mudar paradigmas significa, inclusive, se cansar, porque a teimosia cansa, e o descanso está no próprio convecimento de que a insistência no processo é a única forma de, ao menos, deixarmos uma sociedade menos amigável para homens ou para mulheres e mais amigável para todas as pessoas.