Serão treze anos de Flip em 2016 e apenas pela segunda vez uma mulher receberá homenagens. Ana Cristina César (1952-83), poeta, crítica e tradutora, vem se somar à Clarice Lispector para formar uma rara dupla de autoras no meio de onze autores que já receberam a deferência da mais importante festa literária do Brasil.
Clarice, lida desde sempre, tem inclusive puxado a balança comercial no que lhe diz respeito: segundo dados apurados pela Revista Língua Portuguesa (Edição 115 de Maio de 2015), ela é a autora mais solicitada para traduções no exterior, seguida de Jorge Amado e Machado de Assis. Ainda neste ranking, figura Adriana Lisboa – e o restante são homens.
Ana Cristina César é bem menos conhecida que Clarice – e escreveu poesia, gênero que, neste país onde 30% da população com mais de 15 anos se classifica como analfabeta, pouco vende, pouco dá ibope. No entanto, e pelo texto que justifica a escolha de seu nome pela comissão organizadora da Flip, sua importância foi grande: ao lado de Caio Fernando de Abreu, Marcelo Rubens Paiva, Cacaso e Waly Salomão, pertenceu ao que ficou conhecido, nos anos 1970-80, como movimento de Poesia Marginal.
Entrelinhas existem, e nestas a importância da autora é porque esteve ao lado de homens que se tornaram importantes no cenário da literatura brasileira.
Mas o mês foi de protagonismo feminino, com manifestações contra o projeto de lei que restringe o aborto e contra o assédio sexual, que deu voz a hashtag #meuprimeiroassedio e escancarou o quanto este país é pobre no que se refere à proteção à mulher.
Também parece pobre em valorizar suas mulheres escritoras. Por hora, no entanto, precisamos comemorar que Ana C. dê voz a toda nossa produção no ano que vem. Em 2017, já podemos fazer a sugestão à Flip, que tal Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst, Adélia Prado, Nélida Piñon, Zelia Gattai, Cora Coralina, Lya Luft? Mesmo que mais uma mulher seja homenageada, homens, acalmem-se, vocês ainda serão mais que 50%.