A cada dia que passa, tenho ouvido mais e mais notícias interessantes de negócios sociais, no Brasil e no mundo. Empreendedores sociais em ação, escolas de capacitação, fundos de investimento, pesquisadores e entidades parceiras, um verdadeiro ecossistema se criando com o objetivo de tornar o nosso mundo menos desigual.
Ao mesmo tempo, algumas pessoas ainda desconhecem totalmente o setor também chamado de 2.5, não entendem como pode funcionar um negócio que gera valor social, além de receita. Vivemos um processo de transição: em alguns anos não será nenhum espanto fazer negócios (lucrativos) tendo a geração de impacto social positivo como grande missão da empresa. É só questão de conhecer o conceito, o funcionamento, e, principalmente, boas histórias de empreendedores sociais que já estão na ativa, transformando a sociedade brasileira para o bem por meio das organizações que criaram.
Assim, por que não aproveitar esse maravilhoso espaço para compartilhar histórias de empreendedoras sociais de sucesso? Começarei pelas empreendedoras que, com seus trabalhos, tocam num ponto crucial da transformação social e de uma sociedade mais justa: a equiparação de oportunidades. Equiparar oportunidades significa que para cada um chegar aonde se quer, o ponto de partida deve ser, mais ou menos, parecido. É muito difícil pensar em empreender, economizar, estudar, trabalhar e criar bem os filhos quando falta o básico.
Uma delas é a empreendedora social Erika Foureaux, designer fundadora do Noisinho da Silva, organização criada para desenvolver equipamentos que permitam a inclusão de crianças, com deficiência física ou não. O Noisinho desenvolveu, até hoje, três grandes soluções: a carteira escolar universal (ou seja, adaptável para todas as crianças), a ciranda (cadeirinha de chão para crianças com deficiência que não se assentariam sozinhas), e a Oficina da Ciranda, uma tecnologia social realizada em dois dias, onde as famílias das crianças com deficiência constroem a própria ciranda.
Muito além de possibilitar às crianças com deficiência a inclusão no ambiente escolar, a Ciranda se trata, principalmente, de incluir essas crianças no processo de desenvolvimento pessoal cognitivo, no momento em que o ser humano mais aprende na vida: a primeira infância. Uma criança impossibilitada de desenvolver sua cognição, suas habilidades físicas e mentais é uma criança excluída da possibilidade de ter uma carreira própria e, de modo geral, afastada da própria autonomia. Assim, o grande destaque do Noisinho da Silva vai para a sua brilhante iniciativa de fornecer a essas crianças instrumentos para que elas tenham oportunidades iguais de desenvolvimento. No ano passado, os fundadores do Noisinho criaram também uma empresa social, a The Products, com a finalidade exclusiva de vender os produtos desenvolvidos pelo Instituto, dando a este recursos para continuar o desenvolvimento de equipamentos para a inclusão.
Não perca, na próxima coluna, mais um caso de empreendedora social de sucesso!
Dica TED do mês:
Imperdível a lista com 20 TEDtalks de mulheres corajosas no TED, criada pela TEDFellow e co-organizadora do TEDxRainier Nassim Assefi: Vinte Mulheres Corajosas no TED. É possível ativar legendas em português na barra inferior do vídeo, à direita.
Natália Menhem é cientista social pela Universidade Federal de Minas Gerais, com experiência em estudos socioeconômicos e engajamento de comunidades. É co-fundadora e co-diretora da startup Sustenta Projetos, que realiza diagnósticos de comunidades e trabalha para o fortalecimento do empreendedorismo de impacto. Integra a equipe organizadora do TEDxBeloHorizonte e é embaixadora do TEDx no Brasil em 2013.