Por Deborah Munhoz
Duas palavras da moda: empreendedorismo e sustentabilidade. A primeira tem sido bastante falada e aplicada. Já a segunda, embora já faça parte do discurso dos brasileiros há mais de uma década, sequer é compreendida pela grande maioria das pessoas. Como implementar práticas orientadas para sustentabilidade se os empreendedores não sabem exatamente o querem dizer com essas práticas? Como ser a favor de algo que não se sabe direito o que é?
Costumo explicar a sustentabilidade como sendo a habilidade de um ecossistema natural, como uma floresta, por exemplo, se manter ao longo do tempo e do espaço de forma dinâmica. Para isso, tais ecossistemas possuem diversos elementos operando de acordo com os chamados princípios ecológicos: interdependência entre todos os elementos, incluindo ar, solo e água; associação em rede, diversidade inter e intra espécies, fluxo de energia tendo o sol como principal fonte energética e ciclos fechado de materiais, associação (que envolve competição e cooperação entre animais e plantas) e, por último, sustentabilidade.
Observem que a sustentabilidade é apenas UM dos oito princípios ecológicos que regem a perpetuidade da vida no planeta Terra e ele só existe por causa de todos os outros. A sustentabilidade é uma propriedade emergente do sistema, não possui existência isolada, mas EMERGE das relações estabelecidas. Sendo assim, é impossível ter um produto sustentável, assim como não existe uma empresa sustentável, porque simplesmente as cadeias produtivas dentro do nosso atual sistema econômico estão operando desobedecendo os demais princípios. Os materiais simplesmente estão sendo retirados da natureza para gerar bens e serviços e retornando, na sua maior parte, como resíduos, destruindo os ciclos naturais. É sabido que muitas empresas comunicam demais e fazem de menos quando o assunto é sustentabilidade. Os empreendedores devem, portanto, buscar o conhecimento técnico especializado relacionado ao seu negócio, ADAPTÁ-LO à sua realidade comprometendo-se a levá-lo objetivamente para a produção, além do marketing.
Quando os problemas sócio-ambientais começaram a entrar na pauta das empresas brasileiras, no início dos anos 2000, eu já atuava na área ambiental. Assisti a ascensão gradativa de uma área considerada como “coisa hippie” no assunto da vez. O auge aconteceu coincidindo com minha entrada para a Gerência de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. O grande problema, na minha avaliação, foi que o assunto foi tratado com muito mais atenção pela turma do marketing do que por técnicos e cientistas dentro das empresas. O resultado foi a superexploração do temo como ferramenta de marketing sem traduzir objetivamente o anunciado para a linha de produção. Para a sociedade os resultados não foram proporcionais às lindas propagandas anunciadas e, por isso, vemos hoje um certo descrédito da sociedade sobre o tema.
Ninguém é contra, pelo contrário, mas poucos empreendedores têm coragem de levantar da cadeira, se fundamentar tecnicamente ou buscar profissionais técnicos competentes e propor um caminho para resolver problemas. Não há receita de bolo, não há um caminho pronto que sirva para todas as empresas, cidades ou países. A verdade é que é impossível ser sustentável sozinho.
Para saber mais: https://bit.ly/alfaeco