Em julho tive a maravilhosa oportunidade de poder conhecer Nova Iorque. Viajei acompanhando minha mãe, uma deliciosa experiência de mãe e filha, que recomendo a todas as empreendedoras ROSA! Durante nossos dias juntas, conversamos bastante, sobre de tudo um pouco, e muito de algumas coisas. Falamos bastante da nossa família, histórias da minha querida avó Teteca, de tios, tias e tias avós: basicamente, voltamos às nossas origens, tecendo, revivendo e compartilhando memórias. No último dia de viagem, passamos a tarde no Museu de Arte Moderna (MoMA). O lugar é incrível, o prédio nem se fala!
No quinto andar, onde se encontram as galerias dos expressionistas alemães, de repente deparei-me com um quadro que já tinha visto em aulas de história da arte, no ensino médio: Gustav Klimt. Não me lembrava com detalhes desse quadro, mas de outros da mesma fase do mesmo artista. Eu me recordava da mulher grávida e do manto colorido – vivíssimo!
Neste segundo encontro com ele – mais um presente dessa deliciosa viagem – pude contemplá-lo ao vivo e com tempo. O quadro mostra uma mulher grávida, envolta em seu manto colorido e com o rosto voltado para a sua barriga. Abaixo da barriga, um crânio, que também olha para baixo. E, no manto, a grande surpresa que eu nunca tinha observado antes. A barra do manto é ocupada pelos rostos de três mulheres, que também tem seus rostos voltados para baixo. Todas, inclusive a mãe, parecem estar com os olhos fechados. Todas, com as mãos para cima. Pela primeira vez percebi o grande equilíbrio desse quadro: não se trata apenas da mulher grávida – a mãe. Trata-se da mãe, com a semente na barriga, sobre outras mulheres: uma imagem que cria uma clara referência à nossa linha ancestral, a quem nos antecede e também nos sustenta. A quem está ou esteve ali por nós, ainda que não tenhamos conhecimento.
O quadro se chama “Hope, II” (Esperança, II)*. Sim, é fato que a gravidez é símbolo inegável da esperança. Já dizia Guimarães Rosa: “Um menino nasceu, o mundo torna a começar”. Mas o encontro com o “Esperança, II” mostrou-me também a esperança que reside na simples existência de caminhos que foram construídos para que estivéssemos aqui, antes mesmo que pudéssemos pensar em construir a nossa própria história. Vendo esse quadro, conectei-me com as mulheres das quais depende a minha história. Pensei em quão legal seria ver aquele quadro ao lado das minhas avós e, mais legal ainda, ver os meus avós, todos, assistindo a história que iniciaram: de seus filhos, netos e bisnetos.
Olhar para trás ou para baixo (no caso do manto do Esperança, II, para quem nos sustenta, para nossas raízes), é uma forma de entender a nossa história, o nosso lugar, os nossos papéis. De conectar pontos da nossa história que se originaram lá atrás. Uma forma de se sentir agradecido/a pelo que pudemos construir e pelo que foi construído para que estivéssemos aqui. É uma forma de entender quanto valor e quanta alegria estão contidos em nossa vida, desde antes de pensarmos nela. Ver o Esperança me levou por uma viagem através da história de cada um que me trouxe até aqui, passando pelos caminhos dos meus bisavós do Líbano até Barbacena, pelas itinerâncias de meus avós por vários cantos de Minas, pelo pouso em Arantina. Pelas ações, empresas, histórias e famílias que iniciaram.
Nós somos parte de um legado. E mais bonito ainda, é ver que retroalimentamos esse legado. Somos criados por nossos pais, tios e avós, e também criamos para eles. Nas palavras da minha amada mãe, “A gente é a partir do nosso ninho e a gente se vê naqueles que parimos e criamos”. Tive mais clareza disso ao compartilhar essa experiência com ela, e ouvir o feedback mais gostoso do mundo: “Obrigada pela companhia transformadora que você tem sido para mim. Te amo.” Não é linda essa árvore da vida?
Ps: não sou nenhuma expert no assunto ou historiadora da arte. Foram apenas sentimentos e reflexões que vieram da observação da linda obra do Klimt.
Ps2: Agradeço ao Christyano Malta pelas conversas inspiradoras e pela contribuição carinhosa e valiosa para a construção desse texto.
Natália Menhem é cientista social pela Universidade Federal de Minas Gerais, com experiência em estudos socioeconômicos e engajamento de comunidades. É co-fundadora e co-diretora da startup Sustenta Projetos, que realiza diagnósticos de comunidades e trabalha para o fortalecimento do empreendedorismo de impacto. Integra a equipe organizadora do TEDxBeloHorizonte e é embaixadora do TEDx no Brasil em 2013.
Nenhum comentário “Esperança e Honra”
Chorei.
Intensamente profundo.
Parabéns pela forma de mostrar o mundo, a arte e a magia que há no maior bem de um ser humano, a sua simplicidade.
Abs
A esperança na humanidade é mais concreta ao ler o texto da minha filha Natália! que me faz querer ser melhor sempre!
Natália, mensagem linda e inspiradora, como vc.
Chris, Mamma e Bia,
Muuuuuuuito obrigada pelos comentários lindos! 🙂
Muito inspirador mesmo ! Me fez viver e relembra um pouco do que tenho vivido, as vezes voltar a passado para entender nossa conexões é extremamente importante.Sou extremamente grata a tudo que vivi e a todos as pessoas inspiradoras que hoje tenho ao meu redor. Inclusive você Natália . Obrigada