Em 1983, durante a conferência promovida pela National Organization for Changing Men (a mais antiga organização masculina antissexista dos Estados Unidos, atualmente chamada National Organization for Men Against Sexism – NOMAS), Dworkin realizou, para um público de aproximadamente 500 homens e algumas mulheres esparsas, a palestra “I Want a Twenty-Four Hour-Truce During Which There Is No Rape“, originalmente publicada com o título “Talking to Men About Rape“, no jornal OUT! (Vol. 2, No. 6, Abril 1984). As palavras de Andrea permanecem atuais. Leia, a seguir, a tradução de seu discurso.
“Eu quero uma trégua: 24 horas sem estupros“
Por Andrea Dworkin
“Eu pensei muito sobre como uma feminista poderia falar com uma audiência composta majoritariamente por homens envolvidos com política e que dizem ser contra o machismo. E eu pensei muito se deveria haver alguma diferença no que eu falaria a vocês. E, então, eu me vi incapaz de fingir que acredito que essa diferença exista. Eu acompanhei o movimento dos homens por muitos anos. Eu sou próxima a muitas pessoas que militam nele. Mas eu não posso vir aqui como uma amiga, embora eu quisesse. O que eu gostaria de fazer é gritar: e nesse grito eu teria o grito das estupradas, o choro das espancadas; e, ainda pior, no centro desse grito eu teria o ensurdecedor som do silêncio das mulheres, esse silêncio em que nós nascemos porque somos mulheres, e no qual a maioria de nós vai morrer.
E se fosse haver algum apelo ou alguma questão nesse grito, seria: por que vocês são tão lentos? Por que vocês demoram tanto para entender as coisas mais simples – não as ideologias complicadas. Vocês entendem essas. Mas as coisas simples, os clichês. Que as mulheres são humanas precisamente no mesmo grau e qualidade que vocês são.
E, também, que nós não temos tempo. Nós, mulheres, não temos ‘para sempre’. Algumas de nós não têm nem uma semana ou um dia a mais para que vocês tenham tempo para discutir o que quer que faça com que vocês vão para as ruas para fazer alguma coisa. Nós estamos muito perto da morte, todas as mulheres estão. E estamos muito perto de sermos estupradas e espancadas.
Nós estamos dentro de um sistema de humilhação do qual é impossível escapar. A gente não usa estatística para tentar quantificar as injúrias, mas para convencer o mundo de que essas injúrias existem. Essas estatísticas não são abstratas. É fácil falar ‘ah, as estatísticas, alguém as escreve de um jeito, outra pessoa as escreve de outro modo…’. É verdade. Mas eu escuto as histórias sobre estupro, uma por uma por uma por uma por uma, e é assim também que elas acontecem. Essas estatísticas não são abstratas para mim. A cada três minutos uma mulher é estuprada. A cada dezoito segundos uma mulher é espancada. Não existe nada abstrato sobre isso. Está acontecendo agora mesmo, enquanto eu falo com vocês.
E está acontecendo por um motivo bem simples. Não há nada complexo ou difícil nesse motivo. Os homens são os culpados disso pelo tipo de poder que exercem sobre as mulheres. E esse poder é real, concreto, exercido de um corpo para outro corpo, exercido por alguém que acredita que tem esse direito, exercido em público e em privado. E é a soma e a substância da opressão das mulheres.
Isso não é feito a milhares de quilômetros de distância. É feito aqui e agora e é feito pelas pessoas nessa sala, assim como por outros contemporâneos nossos: nossos amigos, nossos vizinhos, as pessoas que conhecemos. As mulheres não precisam ir para a escola para aprender sobre poder. A gente só precisa ser mulher, caminhando por uma rua ou tentando fazer o trabalho de casa depois de abrir mão do seu próprio corpo no casamento e perder todos os direitos sobre ele.
O poder exercido pelos homens no dia a dia é um poder institucionalizado. É protegido por lei. É protegido pela religião e pela prática religiosa. É protegido pelas universidades, que são fortalezas da supremacia masculina. É protegido pela polícia. É protegido por aqueles que Shelley chama de ‘os legisladores não reconhecidos do mundo’: os poetas, os artistas. E contra todo esse poder, nós temos silêncio.
É uma coisa extraordinária tentar entender e confrontar o motivo pelo qual os homens acreditam – e eles acreditam – que têm o direito de estuprar. Eles podem não acreditar quando perguntados diretamente. Quem aqui acha que tem o direito de estuprar? Por favor levante a mão. Poucas mãos vão subir. Mas é na vida que os homens acreditam que têm o direito de forçar sexo – que eles não chamam de estupro. E é algo extraordinário tentar entender que homens realmente acreditam que têm o direito de bater e de machucar. E é igualmente extraordinário tentar entender que homens realmente acreditam que têm o direito de comprar o corpo de uma mulher para fazerem sexo – e que isso é o seu direito. E é também surpreendente tentar entender que os homens acreditam que essa indústria de 7 bilhões de dólares, que traz vaginas para as suas vidas, é algo a que eles têm direito.
Essa é a forma que o poder dos homens se manifesta na vida real. Isso é o que a teoria da supremacia masculina significa. Significa que você pode estuprar, bater, machucar. Significa que você pode comprar e vender mulheres, que existe uma classe de pessoas para prover o que você precisa. Você ganha mais dinheiro do que elas, então elas precisam vender sexo. Não só nas esquinas das ruas, mas no trabalho. Esse é outro direito que vocês parecem presumir que têm: acesso sexual a qualquer mulher do seu ambiente, na hora que vocês quiserem.
Agora, o movimento dos homens sugere que os homens não querem esse tipo de poder. Eu ouvi declarações inteiras que me falavam isso. E, mesmo assim, tudo é motivo pra não se mexer para mudar o fato de que, sim, vocês têm esse poder.
Se esconder atrás da culpa, esse é o meu motivo favorito! Eu adoro. ‘Oh, claro, é horrível, me desculpe’. Só que vocês têm tempo para sentir culpa. Nós não temos tempo para que vocês se sintam culpados. A sua culpa é uma forma de conivência com o que acontece. A sua culpa mantém as coisas do jeito que são.
Eu escutei muito, nos últimos anos, sobre como os homens sofrem também com o machismo. Quer dizer, eu passei a vida inteira ouvindo sobre o sofrimento dos homens. Nem precisa falar, eu li Hamlet e King Lear, eu sou uma mulher culta. Eu sei que homens sofrem. Mas esse é um novo desdobramento: implícita na ideia de que é um tipo diferente de sofrimento , está a alegação de que, em parte, vocês sofrem por causa de algo que acontece com outro grupo. Isso seria algo novo.
Mas grande parte da sua culpa e do seu sofrimento se reduz a: ‘nossa, me sinto tão mal’. Tudo faz vocês se sentirem mal. O que vocês fazem, o que vocês não fazem, o que vocês querem fazer, o que vocês não querem fazer mas vão fazer mesmo assim. Para mim, grande parte da sua angústia é exatamente isso: ‘nossa, me sinto tão mal, de verdade’. E eu lamento que você se sinta tão mal – tão inútil e estupidamente mal – porque de uma forma essa é, sim, sua tragédia. E eu não estou falando do fato de homens não poderem chorar ou do fato de que não existe intimidade verdadeira nas suas vidas. Eu não estou falando sobre a armadura que homens precisam vestir, que é ridícula – eu não duvido que seja. Mas não falo disso.
O que eu estou falando é que tem uma relação direta entre a forma que mulheres são estupradas e a socialização dos homens para estuprar com a máquina de Guerra, que tritura e cospe cada um de vocês: essa máquina de Guerra pela qual vocês são obrigados a passar, assim como uma mulher passou por uma máquina de moer carne na capa da Hustler. Espero, realmente, que vocês acreditem que essa tragédia também é sobre vocês, porque vocês estão se tornando soldados a partir do dia que nascem, e tudo o que vocês aprendem sobre como negar a humanidade das mulheres é parte do militarismo desse país em que vocês vivem e desse mundo em que vocês vivem. Também é parte da economia que vocês frequentemente alegam protestar contra.
E o errado é que vocês acham que o problema está lá fora, e não está. Está em vocês. Os cafetões e os belicistas falam por vocês. Estupro e guerra não são tão diferentes. O que cafetões e belicistas fazem é deixar vocês orgulhosos de serem homens que conseguem ficar de pau duro e foder com força. E eles pegam essa sexualidade aculturada, colocam vocês em uniformes, e mandam vocês embora para matar e morrer. Eu não estou sugerindo que isso é mais importante do que o que vocês fazem para as mulheres, porque não é.
Mas eu acho que, se você quer olhar para o que o sistema faz com você, então é aqui que você deveria começar: as políticas sexuais da agressão, as políticas sexuais do militarismo. Homens estão com medo de outros homens. Isso é algo que vocês tentam discutir em grupos pequenos, como se, caso mudassem suas atitudes uns com os outros, deixariam de sentir medo.
Mas enquanto sua sexualidade tiver relação com agressão, enquanto seu senso de direito sobre a humanidade significar ser superior a outras pessoas – e há tanto desprezo e hostilidade nas suas atitudes com mulheres e crianças! – como vocês podem não ter medo? Eu acho que vocês percebem, corretamente, mesmo sem conseguir lidar com isso de forma política, que homens são perigosos: porque vocês são. A solução que o movimento dos homens propõe para fazer com que vocês se tornem menos violentos uns com os outros é mudar a forma que vocês se tocam, que vocês agem com o outro. Essa não é uma solução, é a hora do recreio, é uma pausa recreacional.
[…] Alguns de vocês estão preocupados com o crescimento da Direita no país, como se isso fosse algo separado das questões do feminismo ou do movimento dos homens. […] Se vocês têm medo da ascensão do fascismo nesse país – e você teria que ser muito tolo para não ter – então vocês precisam começar a entender que a raiz de tudo tem a ver com a supremacia masculina e o controle das mulheres, com o acesso sexual às mulheres, com as mulheres como escravas sexuais, com o domínio privado das mulheres. Esse é o programa da Direita. Essa é a moralidade de que eles falam. É isso que eles querem dizer, é isso que eles querem. E a única oposição que faz diferença é a oposição ao domínio das mulheres pelos homens.
O que está envolvido nessa noção de fazer algo a respeito? O movimento dos homens parece preso em dois pontos. O primeiro é que eles não se sentem tão bem assim consigo mesmos. Aliás, como poderiam? O segundo é que os homens chegam para as feministas e falam ‘o que você está falando sobre os homens é verdade, mas não sobre mim. Eu não sou assim, eu sou contra tudo isso’. E eu digo: cara, não fala isso pra mim. Fala para os pornógrafos, para os barões da indústria pornográfica. Fala para os cafetões. Fala para os caras que fazem as guerras. Fala para os caras que justificam estupro, que celebram o estupro, que apoiam ideologias a favor do estupro. Fala para os escritores que acham que estupro é maravilhoso. Fala para o Larry Flynt, para o Hugh Hefner. Não há sentido algum em falar isso para mim, eu sou apenas uma mulher. Eu não posso fazer nada sobre isso. Mas esses homens acham que falam por vocês, por todos vocês. Eles estão na arena pública falando que representam vocês. E se eles não representam, vocês devem dizer isso a eles.
E existe o mundo privado da misoginia: o que vocês sabem uns dos outros, o que vocês falam em confidência, a exploração que vocês presenciam nas esferas privadas, as relações que são chamadas de amor mas são baseadas em opressão. Não é o suficiente encontrar uma feminista na rua e dizer ‘cara, eu também odeio isso’.
Fala para os seus amigos que fazem isso. E, inclusive, existem ruas em que você pode falar em voz alta e clara para afetar as instituições que mantêm esses abusos. Você não gosta de pornografia? Como eu queria acreditar que isso é verdade. Eu só vou acreditar quando vir isso nas ruas. Eu vou acreditar quando vir uma oposição política organizada. Eu vou acreditar quando os cafetões forem obrigados a largar o negócio porque não existem mais consumidores.
Vocês querem organizar os homens. Vocês não precisam buscar questões para trabalhar, essas questões são parte da vida diária de vocês.
Eu quero falar para vocês sobre a igualdade, o que igualdade é e o que significa. Não é apenas uma ideia. Não é uma palavra insípida que no fim não significa nada. Não tem a ver com declarações como ‘isso também acontece com homens’. Eu falo sobre um abuso e eu escuto ‘ah, isso também acontece com homens’. Essa não é a igualdade pela qual estamos lutando. A gente podia mudar de estratégia e dizer: queremos igualdade, então vamos enfiar um pau na bunda de um homem a cada 3 minutos.
Você nunca vai ouvir isso do movimento feminista, porque, para nós, igualdade tem dignidade e importância. Não é uma palavra qualquer que pode ser distorcida para fazer a gente parecer burra, como se não tivesse nenhum significado real.
[…] Igualdade é uma prática, uma ação. É um estilo de vida. Uma prática social. Uma prática econômica. Uma prática sexual. Ela não pode existir no vácuo. Não dá para ter igualdade em sua casa se, no momento em que as pessoas pisam fora de lá, encontram um mundo de supremacia, baseado na existência de um pênis, um mundo de humilhação e degradação em que mulheres são percebidas como inferiores porque sua sexualidade é uma maldição.
Isso não quer dizer que a tentativa de praticar igualdade em casa não vale nada. Claro que vale, mas não é o suficiente. Se você ama igualdade, se você acredita nisso, se essa é a forma que você quer viver sua vida – não só homens e mulheres juntos em uma casa, mas também homens e homens juntos em uma casa e mulheres e mulheres juntas em uma casa – se igualdade é o que você quer e se você realmente se importa com isso, então você tem que lutar com as instituições que podem tornar isso real.
Não é apenas sobre suas atitudes. Você não pode pensar e fazer existir. Não dá para tentar às vezes, quando é vantajoso para você, e esquecer no resto do tempo. Igualdade é disciplina. É um estilo de vida. Criar igualdade nas instituições é uma necessidade política. E outra coisa sobre igualdade é que ela não pode coexistir com estupro. É impossível. E não pode coexistir com pornografia ou prostituição ou degradação econômica das mulheres em qualquer nível, em qualquer forma. Não pode coexistir porque implícita em todas essas coisas está a inferioridade da mulher.
Eu quero ver o movimento dos homens se comprometer a acabar com o estupro porque esse é o único compromisso significativo com a igualdade. […] Todas as nossas ações políticas são mentira se não nos comprometermos a abolir a prática do estupro. Esse comprometimento precisa ser politico. Precisa ser sério, sistemático e público. Ele não pode ser autoindulgente.
As coisas que o movimento dos homens quer valem a pena. Intimidade vale a pena. Sensibilidade vale a pena. Cooperação vale a pena. Uma vida emocional vale a pena. Mas vocês não podem ter isso em um mundo com estupro. Acabar com a homofobia vale a pena. Mas vocês não vão conseguir isso em um mundo com estupro. Estupro fica no meio do caminho de cada uma dessas coisas que vocês alegam desejar. E por ‘estupro’ vocês sabem o que eu quero dizer. Um juiz não precisa entrar aqui e falar ‘de acordo com o estatuto, isso e isso constituem provas’. A gente tá falando de qualquer tipo de coerção para fazer sexo, inclusive coerção pela condição socioeconômica.
Vocês não terão igualdade ou sensibilidade ou intimidade enquanto houver estupro, porque estupro significa terror. Significa que parte da população vive em um estado de terror e finge, pra agradar e pacificar vocês, que não. Então não existe honestidade. Como poderia? Você consegue imaginar o que é ser uma mulher todos os dias e viver sob a ameaça do estupro? Como é viver dentro dessa realidade? Eu quero ver vocês usarem sua força lendária, seu corpo lendário, sua coragem lendária, e a sensibilidade que vocês alegam ter para ajudar as mulheres. E isso significa ser contra os estupradores, contra os cafetões e contra os pornógrafos. Isso significa mais do que uma renúncia pessoal. Significa um ataque sistemático, politico, ativo e público. E existe muito pouco disso atualmente.
Eu vim aqui hoje porque eu não acredito que estuprar seja inevitável ou natural. Se eu acreditasse, não faria sentido estar aqui. Se eu acreditasse, minha prática política seria completamente diferente do que é hoje. Vocês já pararam para pensar por que nós simplesmente não nos armamos para combater vocês? Não é só por causa da falta de facas nas cozinhas do país, é porque nós acreditamos na sua humanidade, apesar das evidências.
Nós não quereremos que a responsabilidade e o trabalho de fazer vocês acreditarem em sua humanidade seja nosso. Nós não quereremos mais isso. Nós sempre tentamos, e fomos pagas com um sistema de exploração e abuso. Vocês vão ter que fazer isso sozinhos a partir de agora, e vocês sabem disso.
A vergonha que os homens sentem na frente das mulheres é, eu acho, uma resposta apropriada para o que os homens fazem e deixam de fazer. Eu acho que vocês devem mesmo se envergonhar. Mas vocês usam essa vergonha como justificativa pra continuar fazendo a mesma coisa de sempre, e nada mais. Mas vocês precisam parar. Vocês precisam parar. O seu estado psicológico não importa. O quanto vocês estão machucados não importa mais do que o quanto nós estamos. Se a gente ficasse sentada falando como o estupro nos machuca e não fizesse nada, vocês acham que haveria alguma mudança nos países nos últimos quinze anos? Não haveria.
É verdade que precisamos conversar uns com os outros. De que outra forma descobriríamos que não somos as únicas mulheres no mundo que sofremos abuso, estupro e espancamento? A gente não lia sobre isso nos jornais. Não existiam livros sobre isso. Mas vocês já sabem disso, e agora a questão é: o que vocês vão fazer? Então isso não é sobre sua culpa e sua vergonha. Elas não importam para a gente. Elas não são boas o suficiente. Elas não fazem diferença.
Como feminista, eu carrego comigo, de forma pessoal, o estupro que todas as mulheres com quem eu conversei sofreram nos últimos dez anos. Como mulher, carrego o estupro que eu vivi comigo também. Vocês lembram das fotos das cidades europeias durante a Peste Negra, quando as pessoas iam com carrinhos de mão pegar os cadáveres? Bem, é mais ou menos assim que é saber sobre estupro. Pilhas e pilhas e pilhas de corpos que têm vidas e nomes e humanidade e rostos.
Eu falo por muitas feministas, não só por mim mesma, quando digo que estou cansada do que eu sei, triste além das palavras com o que já foi feito com as mulheres até hoje, até agora, até 2:24 da tarde desse dia, aqui.
E eu queria um dia de trégua, um dia de folga, um dia em que nenhum corpo novo fosse empilhado, um dia em que nenhuma agonia fosse somada à que já existe, e eu estou pedindo que vocês me deem isso. E como eu poderia pedir menos? Isso é tão pouco! E como vocês poderiam me oferecer menos? Isso é pedir tão pouco! Até em guerras há dias de trégua. Sério, vão e organizem uma trégua. Parem o lado de vocês por um dia. Eu quero uma trégua de 24 horas sem estupro.
Eu desafio vocês a tentar. Eu demando que vocês tentem. E eu não me importo de implorar para que vocês tentem. O que mais vocês estariam fazendo aqui? O que mais esse movimento poderia significar? O que mais importa tanto quanto isso?
E nesse dia, nesse dia de trégua, em que nenhuma mulher seja estuprada, nós começaremos a verdadeira prática da igualdade, porque não podemos começar antes desse dia. Antes desse dia, isso significa nada, porque é nada: não é real. Não é verdadeiro. Mas quando esse dia chegar, isso se tornará real. E, então, ao invés de estuprar, nós iremos, pela primeira vez na história das nossas vidas, tanto mulheres quanto homens, começar a experimentar a liberdade.
Se o seu conceito de liberdade inclui estupro, você está errado. Você não poderá mudar o que alega querer mudar. Eu quero conhecer um dia de liberdade antes de morrer. Eu deixo vocês agora para fazer isso por mim e pelas mulheres que vocês dizem amar.”
FONTE: Memento Revisão