O gap salarial entre homens e mulheres: novas discussões sobre um velho problema.
Recentemente foi publicado mais um artigo sobre diferenças salariais entre homens e mulheres: segundo dados da Bloomberg, o gap salarial (ou o quanto os salários das mulheres é inferior ao de homens) entre executivos americanos é de 18%, considerando as empresas que compõem o S&P 500 (na qual as mulheres eram 8% do total), e os mesmos 18% no Brasil, de acordo com pesquisa realizada pelo Hay Group, entre executivos brasileiros, dos quais 17% eram mulheres.
Na prática, esses dados não apresentam nenhuma novidade, a não ser pela persistência do gap em si, que declinou de 1970 a 1990, mas desde então permanece basicamente no mesmo patamar, e da falta de reação a ele: o gap já não é tão discrepante que nos causa repulsa e indignação e nos mobiliza a ir pras ruas, mas continua lá, parte da paisagem, mais um fato da vida, ou quem sabe, uma diferença natural ligada a diferença de gêneros.
Há uma combinação de fatores e diversas explicações para esse gap. Uma delas é o fato das mulheres negociarem bem menos que os homens em relação a sua própria remuneração, conforme demonstrado em diversas pesquisas, como a da Universidade Carnegie Mellon que mostrou que 57% dos homens e apenas 7% das mulheres negociava as ofertas de emprego recebidas.
O mais irônico é que isso não acontece porque as mulheres não saibam negociar, não gostem de negociar ou sejam piores em negociação do que homens. Quando é esse o caso, podem ser indicados cursos ou coaching específicos para desenvolver essa habilidade, o que sempre pode ajudar. Mas pesquisas demonstram que quando negociam para suas empresas as mulheres tendem a ser tão boas ou melhores quanto os homens e alcançam excelentes resultados, o problema é restrito a negociações em causa própria.
Essa dificuldade em advogar em causa própria teria sim uma explicação ligada a gêneros, ou mais especificamente, a estereótipos de gênero, como aponta Sheryl Sandberg, em seu livro “Lean In”. Espera-se de uma mulher que ela seja naturalmente preocupada com o bem-estar alheio e em cuidar dos outros, do grupo. Essa expectativa vem não só de homens como também de outras mulheres. Já de homens é esperado um comportamento mais determinado e mais focado em lutar em benefício próprio, a cuidar de si mesmo. Assim, uma atitude idêntica pode ser vista como sendo demasiadamente egoísta se for feita por uma mulher, e apropriadamente egoísta, se por um homem. E imediatamente esse comportamento irá despertar uma certa antipatia ou desconfiança em relação a essa mulher.
E que mulher de bom senso quer causar essa impressão, com todas suas consequências negativas, tanto a nível profissional (afinal, quem quer ter uma chefe, funcionária ou colega que “só pensa em si”?) quanto a nível pessoal (“que tipo de amiga, mãe, esposa, uma mulher assim pode ser”?) ? Visto assim, parece até que aceitar um gap de 20% faz um certo sentido… Mas certamente não tem que ser assim. Por isso, vale a pena continuar discutindo e pesquisando o assunto, pois trazer essas questões à tona ajuda a limpar mitos e ideias preconcebidas e facilita traçar uma estratégia para enfrentar o fenômeno quando entendemos suas causas, ou pelo menos parte delas. Enquanto isso, “bora” trabalhar que a longo prazo ainda é a melhor forma de conseguir uma boa remuneração, gap ou não!
Cristiane Piza é economista pela UFRJ e MBA em Finanças pela Columbia Business School e atua na área de Financiamentos Estruturados de um banco internacional. Possui vasta experiência em M&A, tendo atuado em diversas operações pelo ABN AMRO Bank em Nova Iorque e Idea Capital em São Paulo e também em private equity pelo Bioenergy Development Fund. É diretora e co-fundadora do Chapter Brasil do 85 Broads, grupo global para fortalecimento do networking entre mulheres executivas com 30.000 participantes no mundo. É Executive Coach e Life Coach formada pelo Integrated Coaching Institute em curso credenciado pelo International Coaching Federation.