Por Deborah Munhoz
A vida das mulheres sempre esteve ligada às águas. A começar pela gestação dos bebês, que nascem em uma bolsa de água. Embora a rotina feminina esteja diretamente ligada à água, o mesmo não ocorre no que se refere à tomada de decisão sobre a gestão das águas. Nunca ouvi dizer que os fazendeiros e empresas consultam as mulheres para usar as águas dos rios. A maioria dos negócios é dirigida por homens que não lidam com problemas domésticos.
Quando a mídia despeja sobre a população noticias sobre a crise da água em São Paulo ou Belo Horizonte, sinaliza que entramos literalmente na era do caos urbano. Embora alertados por técnicos competentes e ambientalistas há muitos anos, empresários, governantes, políticos e a própria população nunca levou a história a sério.
Os principais atingidos durante qualquer crise hídrica, em todo o mundo, são as mulheres seguidas pelas crianças e os mais velhos. Isso não é uma questão de discriminação dos homens, mas de olhar a vida prática e cotidiana como ela realmente é. Ainda que nas capitais existam fast food, máquinas de lavar, empregadas domésticas e self services, historicamente, são as mulheres que, prioritariamente, administram a casa, fazem a comida, dão banho nas crianças, lavam a roupa e a louça, arrumam a casa, molham as plantas. Todas essas tarefas dependem do uso da água. E também são as mulheres, juntamente com as crianças, que geralmente percorrem grandes distâncias para buscar a água quer seja no sertão brasileiro quer nos rincões da África.
As mulheres, portanto, deveriam exercer liderança, estar mais presentes e atentas em tudo o que se refere á água, mas não estão. Um dos pontos mais importantes de uma política pública de sucesso é a questão da gestão compartilhada das águas para atender as diferentes necessidades de diferentes usuários (mulheres, jovens, idosos, crianças, além das empresas e do setor agrícola). Do ponto de vista mundial, a água sequer é considerada direito humano fundamental, o que dá às empresas e governos de tratá-las como lhes convêm.
Embora muitas entidades internacionais como Gender Water Alliance – GWA venham fazendo grandes esforços para que as mulheres acordem e participem ativamente das tomadas de decisão na gestão das águas, isto não acontece significativamente nem no Sul e Sudeste do país, mesmo sendo as regiões economicamente mais ricas. Mais ricas e ainda analfabetas do ponto de vista ecológico e político, uma vez que Política, é, por definição, a arte do bem comum.
A maioria das mulheres brasileiras vive hoje nos grandes centros urbanos afastadas dos ambientes naturais. Caíram no sonambulismo urbano hipnotizadas pela falsa realidade de que basta abrir a torneira e apertar a descarga que os problemas se resolvem. De outro lado, temos uma governança das águas predominantemente masculina que administra a água unicamente sob o ponto de vista econômico e da disputa política. Poder,vem do latim “potere” que quer dizer “ser capaz”. A mulher precisa assumir o seu poder pessoal de ser agente de transformação de si e da sociedade e passar a exigir uma gestão das águas que beneficie a todas as pessoas, a água como um direito humano universal.
Afinal, não adianta liderar a empresa e faltar água em casa.
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