Das filhas da Dayse, Luiza é a que mais se parece com ela… Luiza veio para casa da minha mãe quando tinha 14 anos de idade. Nasceu no interior da Bahia, filha de uma família muito simples, enfrentou a infância com muitas carências.
Minha mãe contava que não queria aceitar uma menina para trabalhar em casa. Isabel, uma pessoa boníssima, foi quem apresentou Luiza. Isabel, tia de Luiza, trabalhou em nossa casa durante um tempo e voltou para o interior da Bahia para cuidar de seu sítio pelo qual possuía verdadeira paixão. Todo ano Isabel ligava para convidar mamãe para conhecer suas “vaquinhas”.
Meus irmãos e eu já estávamos casados. Mamãe morava com meu pai, que estava doente há muito tempo. Luiza foi um presente. Voltou a estudar, formou-se no ensino médio e fez curso técnico de nutrição. Acompanhou minha mãe em todos os momentos bons e os mais difíceis. Era ela que estava presente no dia a dia sofrido com o meu pai doente precisando de cuidados especiais. Ela esteve com ele até o final.
Com minha mãe aprendeu a fazer crochê e as delícias dos pudins que até hoje são disputados entre nós. Com a convivência, tornou-se parte de nossa família. Quando se casou, comemoramos no salão de festas do prédio onde mamãe morava.
Mamãe adoeceu e veio morar comigo. Neste período tão difícil para todos, Luiza estava ao meu lado como irmã. Passamos juntas pelo luto uma apoiando a outra e sou eternamente grata por tudo que ela fez.
Hoje vejo essa mulher com tantas coisas de minha mãe que me sinto reconfortada com sua presença aqui em casa. Luiza carrega a força e a determinação de minha mãe. Tornou-se uma mulher forte, batalhadora e justa. Não desiste, o mundo é para ser encarado pela frente.
Agora Luiza tornou-se empreendedora. Junto com o marido, entraram de sócios em um restaurante de comidas nordestinas na cidade de Embu das Artes, perto da praça central. Durante a semana, ela trabalha aqui em casa e nos finais de semana vai ajudar no restaurante.
Acredito que as pessoas, individualmente, podem ser verdadeiros poemas. Criações incríveis que nos levam a acreditar que podemos vir a ser melhores. Assim vejo Luiza com o mesmo êxtase de quando me deparo com uma obra de arte, com um poema que me toca, com uma música que me embala. Potência de uma obra criadora, de um vir a ser. Pulsão. Galáxias. Aprendeu a viver a vida como uma viagem e como dizia Paulo Leminski…“esta vida é uma viagem, pena eu estar só de passagem”.
Ana Carmen Nogueira é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia. Coordenadora do grupo de mulheres caiçaras “Saíras do Bonete” em Ubatuba, São Paulo. Desenvolve pesquisa de pintura encáustica no Ana Carmen Nogueira Ateliê de Artes.
Nenhum comentário “Luiza”
Que lindo. Luiza tem muito a nos ensinar. O mundo deve ser encarado de frente.
Muito Legal, estou super feliz pela Luiza e avisa ela que além de conhecer o restaurante ela tem que nos preparar o pudim de pão.
Estou muito feliz pela Luiza, ela mais que merece. Quero experimentar os quitutes do restaurante. Muita sorte!!!