Por Lênia Luz
Hoje celebramos o dia deles: OS PAIS.
Minha relação com meu pai foi exatamente o título deste post, tanto que aos 11 anos de idade com muitas lágrimas escrevi a música, PAI, do Fábio Junior para ele, e em uma data que não era dia dos pais, enviei pelo correio em um papel de carta de seda. Quando ele faleceu, encontrei em seu apartamento a carta, dentre tantas que ele guardava, de nossas pROSAS via correio. Ele morando em São Paulo e eu em Curitiba.
Papai partiu para “outras paisagens” quando eu estava grávida, do meu então caçula, Daniel, e a saudade que ele deixou bate mais forte hoje do que naquele momento. Por certo porque de lá para cá vivi tantas experiências de amor e dor, que desejei fortemente sua presença ao meu lado.
Adorava conversar, contar e ouvir histórias, sentado em um banquinho e tomando sua cerveja em copo americano. Era um bom ouvinte, sempre tinha algo novo para me ensinar, jamais me respondia de pronto, sempre me fazia pensar e quando eu nao entendia alguma palavra me mandava buscar o seu significado no dicionário. Ao longo de nossa história, trocamos muitas cartas. Lembro que nas férias ( de julho e dezembro) tinha sempre que ao final enviar uma carta para ele, isso me fez ser sempre a número 1 da escola em redação. Por causa dele me tornei uma leitora compulsiva. Me me presenteava ou me indicava livros e depois trocávamos figurinhas sobre a leitura feita. Mas nem tudo foram sempre flores e amores, tivemos um período muito difícil, em uma parte de minha vida já adulta. Porém nossas divergências acabavam sendo respeitadas, por nos reconhecermos em nossas atitudes.
Hoje quando olho no espelho da minha alma e do corpo, vejo muito dele impresso em mim e aí, em um dia como hoje, o que vale é me dar aquele abraço e dizer: “PAI, obrigada por estar por aqui, dentro e fora de mim!”
Neste dia dos pais, quero deixar registrado um parabéns especial aquele que tem sido um pai maravilhoso, do coração e do sangue, para meus 4 filhos: Marcio Tadeu Aurelio. Aprendeu a ser pai na maturidade, com a chegada de Vitor. Trouxe com ele os ensinamentos de seu pai Alberto, que está caminhando em “outras paisagens” com meu pai Valter. De Alberto trás a inspiração e os ensinamentos que fazem ele ser um pai que seus filhos sempre se orgulhem e amem apesar de seus escorregões.
Afinal, como bem diz Martha Medeiros: ” Nossas primeiras e mais fortes emoções foram provocadas por ele. A primeira sensação de respeito foi por ele. O primeiro medo foi dele também. Não podemos decepcioná-lo. Ele faz tudo certo. Não permite que façamos de outro jeito. Mesmo que não sejamos mais do que meras crianças, ele exige de nós o melhor que temos a dar. Ele não se contenta com pouco. Ele é o parâmetro. Ele é o cara. Nosso orgulho, nossa segurança. Nosso.
E então o tempo passa e começamos a aprender que não somos sua imagem e semelhança, já que, ao contrário dele, nós erramos à beça. Nós pedimos cola para conseguir passar de ano. Nós fumamos escondido. Nós pegamos o carro antes de ter carteira. Nós brigamos com nosso irmão. Nós desejamos a namorada do próximo. Nós ultrapassamos o limite de velocidade. Nós somos adolescentes. E um dia surge a desconfiança: será que ele também erra? Essa não. De herói a bandido. Ele, que não quer mais abrir a carteira pra nós. Ele, que todo dia dá sermão. Ele, que faz a mãe chorar. Ele, que implica com todos os nossos amigos. Ele, que reclama do nosso cabelo. Ele, que foi demitido. Ele, que andou bebendo demais. Ele, que teve que ir ao médico. Ele, que não é diferente de ninguém.
Duríssima travessia esta, a que chamamos de “cair na real”. A gente cresce e o gigante se apequena, e passamos todos a ter o mesmo tamanho. Difícil pra ele, mais difícil pra nós.
Como não nos sentirmos traídos? Como ele permitiu que nossas ilusões fossem ralo abaixo? Até que vem a maturidade e, com ela, os papéis se definem, as proporções ganham sentido e clareza. Ninguém é herói, ninguém é bandido. Ele é um homem. Se as mães são tratadas como rainhas do lar para sempre, ele, ao contrário, ganha em humanidade.
Ele se adapta ao nosso olhar, se ajusta. Passa a ser um de nós. O cara que viaja e volta. O cara que some e reaparece. O cara que mente e diz a verdade. O cara que tem certeza e tem dúvida. Ele, que desempenhou muito bem o papel que lhe cabia, que foi gigante quando era preciso. E, quando preciso, revelou que não sabia tudo, e que segue até hoje seu caminho ao nosso lado, sendo ora Golias, ora um humilde pastor.
Nosso pai.”
Beijos de um feliz dia aos pais e aos filhos que vem aprendendo com seu “GOLIAS e SEU HUMILDE PASTOR”