Costumamos encarar a deficiência como uma insuficiência, uma carência de algo que não pode ser restabelecido, o não-ver pode vir a significar para muitos o fracasso nas relações humanas e no desenvolvimento profissional e intelectual.
Recentemente tive a oportunidade de assistir a uma palestra da irlandesa Caroline Casey, empreendedora social que traz a mensagem que devemos acreditar em nós mesmos e que todos têm habilidades a serem desenvolvidas e valorizadas.
Quando Caroline Casey subiu ao palco e iniciou sua apresentação no 3º Fórum Momento Mulher no Hotel Unique, no último dia 07 de outubro de 2013, ela dominou a plateia que se assombrou com a vibração e a força daquela mulher cega que afirmava que não era preciso ter olhos para ter uma visão e mostrou a importância de se ter um olhar para além da deficiência, como pessoas com potenciais plenos de direito.
Sua fala me fez lembrar meu trabalho no ateliê de artes para pessoas com deficiência visual, e de como é espantoso para muitos o trabalho com artes para esse grupo de pessoas. Pessoas cegas fazendo arte?Sim fazendo arte, entendendo arte, multiplicando saberes, e mais que tudo acreditando, se descobrindo e compreendendo mais o mundo.
No último dia 15 de outubro, ofereci uma oficina de artes táteis na OSIP Mais Diferenças que trabalha Educação e Cultura Inclusivas. Entre os participantes havia um rapaz que ficara cego há sete anos. Antes disso ele atuava como grafiteiro, depois da perda da visão não havia mais trabalhado com artes. Chegou acompanhado de uma amiga, foi tateando os trabalhos, percebendo o que estava acontecendo. Sentou-se em uma cadeira pegou um pedaço de arame e moldou a metade de uma face. A outra metade fez com jornal. Juntos, fomos montando de acordo com suas orientações. Com o trabalho pronto um largo sorriso surgiu junto com um grande suspiro de desabafo que parecia dizer – estou de volta.
Assim como Caroline Casey, o rapaz grafiteiro, ambos carregam a força da superação e potência para a transformação de toda a sociedade. Pessoas com deficiência nos ensinam eficiência, nos ensinam a ver o mundo por outras perspectivas. Elas nos ensinam a sermos melhores.
Vygotski (1997) afirmava que o que torna uma pessoa cega ou com baixa visão, deficiente, é sua exclusão da sociedade, do mundo cultural, do convívio com os outros.
Acredito no papel da arte como força inventiva e criadora a ser explorada por todos os sentidos. Acredito que a experiência artística possa proporcionar maior abertura para o mundo para as possibilidades que se apresentam e tem a capacidade de ampliar as relações sociais. Mas, além disso, acredito no potencial humano e que cada pessoa individualmente é uma esperança.
Ana Carmen Nogueira Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia. Consultora do Curso Fazendo Arte na Escola Inclusiva do Programa de Educação Inclusiva (PEI) – Osasco da OSIP Mais Diferenças. Desenvolve pesquisa de pintura encáustica, ministra cursos desta técnica e atua como Arteterapeuta no Ana Carmen Nogueira Ateliê de Artes.