A ex-secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright , já falecida, disse a famosa frase “Há um lugar especial no inferno para as mulheres que não ajudam outras mulheres”. É uma frase frequentemente usada em relação ao local de trabalho como forma de inspirar as colaboradoras a apoiarem umas às outras. E, no entanto, mesmo em 2024, o sentimento da citação de Albright parece totalmente utópico – porque esse lugar especial é infelizmente muito real, e eu escuto constantemente isso em mentoria.
O maltrato psicológico às mulheres por parte de outras de seu mesmo gênero tem até nome: WOLLING. É a soma de dois conceitos: woman (mulher em inglês) e bullying, e se investiga há 20 anos.
O wollying é um tipo de comportamento que responde a um padrão de maltrato psicológico. É possível esperar, portanto, que a mulher que o sofre desenvolva todos os sintomas próprios deste tipo de situações: desequilíbrio emocional, baixa auto-estima, problemas de auto-imagem, insegurança, desamparo aprendido, sentimentos de medo, rejeição, solidão, incompreensão. É possível até mesmo desenvolver depressão e pensamentos de suicídio, levar a faltas no trabalho ou até mesmo a própria demissão de um emprego assim como evasão de demais espaços.
Essa vivência, quando se segue ao longo do tempo, produz estados de alerta permanente característicos de episódios de estresse pós-traumático, e aumenta o risco de que evoluam para fobias específicas (social por exemplo), ansiedade generalizada e inclusive, transtornos alimentares, alcoolismo e transtornos de personalidade dependente.
E a mulher que critica excessivamente ou maltrata a outra, o que será que acontece com ela? Ela se utiliza desta conduta para proteger-se do mesmo dano que muitas vezes ela vive: a crítica, o descrédito, a rejeição. Isso pode ocasionar um comportamento obsessivo dirigido ao controle de aqueles detalhes que ela considera imprescindíveis para manter esse estado prevalente aos demais, e que costumam fundamentar o conteúdo de suas críticas: o cuidado da imagem, um interesse desmedido em resultar atrativa tanto para os homens como para as outras mulheres, ou de ser uma melhor mãe e esposa ou a melhor profissional.
O Workplace Bullying Institute descobriu que as mulheres são vítimas de bullying até 70 por cento das vezes por outras mulheres , enquanto outros estudos demonstraram que as mulheres que se reportam a outras mulheres sofrem uma maior frequência de bullying, abuso e sabotagem no trabalho. O fenômeno é tamanho que tem até nome: Síndrome da Abelha Rainha. Usado para descrever mulheres idosas que propositalmente retêm outras mulheres por causa do seu gênero, foi cunhado na década de 1970 e ainda hoje é usado, de forma um tanto desdenhosa, para descrever este problema contínuo.
De acordo com a Speak Out Revolution , uma organização sem fins lucrativos com a missão de acabar com a cultura do silêncio em torno do assédio e do bullying nos locais de trabalho, os comportamentos tóxicos mais comuns relatados são comportamentos manipulativos, humilhações diárias e monitoramento excessivo do seu trabalho. Uma pesquisa da Glassdoor também mostrou que as mulheres são mais propensas a sofrer bullying do que os homens, potencialmente porque as funcionárias têm menos confiança em falar por si mesmas.
Um outro ponto identificado nas pesquisas é que existem poucos cargos de liderança disponíveis para as mulheres e muitas vezes o recado que fica é: “Faça a o que puder para conseguir o seu lugar, mesmo que isso signifique comprometer outras mulheres ao longo do caminho.”
Esse tipo de comportamento não apenas se tornou alarmantemente comum, mas também se normalizou a ponto de ser regularmente apresentado na cultura popular. No entanto seria fácil atribuir as mulheres que intimidam as mulheres no trabalho a algo tão simples como o ciúme, ou simplesmente referir-se a isso como Síndrome da Abelha Rainha em ação. Mas a questão é muito mais complexa.
O mundo é uma cultura cerceada pelo patriarcado, este muito bem-sucedido e eficaz, e todos nós fomos criados para viver e trabalhar nele. As mulheres e as meninas aprendem desde cedo que estão em competição com outras mulheres e meninas. Quem é a mais bonita? Quem é a mais inteligente? E assim elas são ensinadas a lutar pelos pequenos pedaços de poder que podem ter ao diminuir outras mulheres e meninas.
Felizmente, empresas estão cada vez mais atentas a questão do bullying no local de trabalho, entre mulheres ou não. Mas, para incentivar as mulheres a denunciarem o assédio moral no local de trabalho, também poderá ser necessária uma mudança cultural mais ampla.
Trouxe este tema a partir de escutas realizadas em minhas mentorias e afirmo que é importante reconhecer se você está vivendo tal situação porém também não deixar que isso afete a forma como você trata outras mulheres. A última coisa que queremos é contribuir para o ciclo de toxicidade. Em vez disso, devemos usar este modelo de atitude como um modelo de como não se comportar. Prometer fazer melhor não apenas por nós mas para a sociedade e todos ao nosso redor.
Se faz neessário criar um local de trabalho onde as mulheres possam defender-se, apoiar umas às outras e fortalecer umas às outras ao invés de se destruirem.
Trago alguns pontos importantes como ações efetivas e afetivas para quebrar este ciclo dentro dos espaços de trabalho:
1.Criar uma abordagem proativa para direcionamento do tema.
2.Impedir que a hostilidade interrompa o crescimento profissional, baixe o moral e atrase o progresso
3.Minimizar os danos causados em ambientes de trabalho hostis com rodas de conversa e criação de comunidades de apoio.
Se estiver vivendo uma situação assim: Busque ajuda.
Se estiver buscando uma forma de conversar sobre esta pauta em sua empresa: Me chame para um café virtual.