Neste momento, o termo ESG não deve ser novidade para você, principalmente se já atua com a pauta. Porém o “S” de Social, apesar de sua grande importância, ainda é um grande desafio especialmente quando dedicado a temas como investimento social, impacto social, diálogo e engajamento das partes interessadas. Para que possa ampliar o olhar é necessário fazer algumas pequenas reflexões.
Modelo Capitalista
Já é sabido, que as empresas tradicionais são orientadas a perseguir o desempenho financeiro satisfatório a curto prazo, capazes de focar em resultados, lucros e dividendos sem grandes preocupações com os impactos negativos gerados pela sua operação. Assim, como disseminado nos anos de 1950 pelo economista Milton Friedman, que defendia a responsabilidade social das empresas era criar empregos, obter lucros e cumprir com suas obrigações legais e fiscais.
Uma nova economia
A partir de uma breve análise do cenário do nosso contexto econômico global, alinhado à nossa sobrevivência humana, pode-se afirmar que o modelo de capitalismo atual já não atende às necessidades humanas e não é mais sustentável. E assim clama por uma mudança de cultura emergencial para adoção de práticas regenerativas. Ou seja, é necessária uma grande mudança de como percebemos o mundo. Assim, em vez de considerar o homo sapiens como o centro da humanidade, precisamos compreender o nosso papel na teia da vida.
Dessa forma é necessário um novo modelo econômico que possa abarcar formas de agir com intencionalidade, adotando medidas conscientes para restaurar e revitalizar nosso planeta, considerando as relações humanas e nosso lugar dentro do ecossistema. A regeneração é um esforço colaborativo e requer mudanças de todos: Estado, sociedade, comunidades, pessoas e empresas, que tenham envolvimento amplo local e global. Sustentar já não é suficiente. Sustentar implica em práticas que destroem. E regenerar vai além da sustentabilidade, pois busca restaurar, revitalizar, fortalecer sistemas naturais e sociais.
Para que se possa ter mudanças significativas também no mundo corporativo é fundamental conhecer novas estratégias com capacidade de se desenvolver a partir de todas as mudanças, podendo gerar, sim, vantagem competitiva enquanto produz benefícios à sociedade.
Convido a você a ter um olhar mais atento ao “S” – Social, com mais apreço. Assim, quando se pensar em gestão e estratégia de negócios, que tal adotar a Teoria de Stakeholders e o Valor Compartilhado? A primeira refere-se aos stakeholders ou partes interessadas como qualquer grupo ou indivíduo que possa ter relação com a organização para que esta possa atingir seus resultados. Estas empresas precisam ter atenção a eles, pois a relação entre eles pode traduzir em uma melhor performance da organização, a partir de relacionamentos positivos.
Já ao considerar o Valor Compartilhado, percebemos que a empresa pode multiplicar seus resultados quando a comunidade em que ela está inserida também prospera. De um lado, a comunidade cria demandas de consumo de produtos e serviços, fornece ativos essenciais e oferece ambiente de apoio. Por outro lado, a comunidade também é beneficiada por empresas prósperas a partir de empregos e criação de riquezas para os cidadãos.
Uma empresa, além de contribuir para a sociedade, com empregos, salários, consumo e impostos, atua também no estímulo à ampliação do valor econômico e social, principalmente quando se reconhece como interdependente entre partes interessadas.
Comunidades no coração do “S” – Social
Nos anos 2000, surgem novas práticas de gestão de negócios com o olhar para a construção de uma nova cultura de sucesso organizacional. Nasce o termo ESG, o Movimento B e outras estratégias que abarcam o sucesso organizacional a partir da geração de valor do negócio para além do lucro. Assim, começam a nascer empresas orientadas pelo propósito e mais cautelosas com o impacto negativo e com foco em criar mais impacto positivo no mundo.
Porém, apesar da horizontalidade das práticas ESG, trazendo para a pauta a importância da Ambiental, do Social e da Governança, não é assim ainda que se opera nas organizações. As práticas ambientais ampliaram seu escopo, como era de se esperar, e a governança ganha força nas práticas de gestão. Entretanto, o Social passa a ser adotado como responsabilidade da equipe de pessoas com práticas sem grande aprofundamento em relação aos demais eixos. É possível ousar afirmar que o olhar da interdependência ainda é algo incipiente e desconhecido, o que afasta as estratégias do negócio para a geração de valor compartilhado.
Ao se debruçar sobre a norma técnica ABNT 2030 – ESG percebe-se o olhar do Social para comunidade apenas para ações voltadas para a mitigação de danos e, principalmente, ao estímulo à obtenção de licença social para operar. Por sua vez, ao olhar para o Movimento B, por meio da ferramenta de avaliação de impacto BIA – Business Impact Assessment, que oportuniza a certificação como B Corps (Sistema B), já é possível identificar alguns avanços nas empresas reconhecidas pelo seu impacto gerado.
E este ponto é algo de grande relevância, pois práticas reconhecidas como responsabilidade social nos anos 2000 não podem continuar sendo referências quando se diz respeito ao trabalho com diálogo entre partes interessadas, investimento social privado e impacto social. Práticas ultrapassadas continuam a fazer parte do portfólio de atuação como roupagem vendida como ESG. O olhar da interdependência entre empresas, comunidade e pessoas de seu entorno ainda é desafiador. Pois o sucesso da corporação ainda é visto apenas como resultado financeiro e a geração de valor ainda está longe de ser compreendida.
É por meio das pequenas revoluções que é possível fazer grandes mudanças, assim, compreender a potência das comunidades é o primeiro passo, seguido do diálogo intencional entre as partes, quando se percebem como interdependentes. Daí nascerá o real valor compartilhado que beneficiará diretamente as pessoas e o planeta.
Graduada em Serviço Social
Especialista em elaboração, gestão e avaliação de projetos sociais; metodologias ativas; Sustentabilidade e Economia Circular
Mestre em Administração com concentração em Organizações e Inovação.
Estrategista em Conexões e Mudanças
Fundadora da AD Social
Multiplicadora do Movimento B
Este texto faz parte do E-BOOK ” Vozes Femininas na Sustentabilidade” idealizado por Daniele Ciotta da qual sou co-autora.