Por Taty Verri
No último mês a Avon e a ONU Mulheres lançaram um documentário sobre a importância de elogiar as meninas não só pela sua aparência. O documentário evidenciou como nós, todos nós, temos o “costume” de elogiar meninas com base no seu tipo físico e não em suas habilidades. Essa discussão já está rolando há um bom tempo, quem se lembra daquele vídeo da menina indignada porque as camisetas para “meninas” tinham palavras como princesa e linda, enquanto a dos “meninos” diziam “aventureiro” e “esperto”?
A cultura de desigualdade de gênero começa lá na infância, por meio da nossa linguagem e da educação. Sem perceber, e acredito mesmo que não seja proposital, nós estamos replicando o padrão, deixando um leve tom machista em nossas criações. Precisamos sim aprofundar essa discussão e mudar nosso mindset para que a nova geração tenha mais força nessa mudança de comportamento.
Mas além disso, além de pensar em como um elogio pode impactar a vida de uma menina, vamos pensar em como os elogios impactam a vida de qualquer um. Por que não elogiamos um garoto dizendo que ele é sensível? Da onde tiraram a ideia de que só nós mulheres podemos chorar, por exemplo? Vamos democratizar os elogios, garotas e garotos são inteligentes, são bonitos, ambos podem ser o que quiserem ser e merecem qualquer tipo de elogio. Vamos elogiar não só a beleza de cada um, mas principalmente a capacidade de cada um.
Outro ponto, estamos tão preocupados com adjetivos ruins que esquecemos de olhar para os elogios taxados como bons, seja para meninas ou para meninos. Elogiar excessivamente uma criança como se ela fosse “perfeita” pode gerar cobranças internas, quantos não passam a vida se cobrando perfeição, não se permitindo errar ou mudar, por medo de desapontar os pais, os amigos, ou a sociedade. E isso não é de agora, isso vem passando de geração em geração. Esquecemos de mostrar para nossas crianças que elas não precisam ser as super fodásticas para serem amadas ou aceitas, mas que acima de tudo elas precisam se aceitar e se amar.
Precisa ficar claro aqui que não estou demonizando os elogios, de maneira alguma, elogiem seus filhos, seus amigos, outras crianças, isso é de extrema importância. Mas faça isso com consciência, com discernimento, sem fazer distinção de gênero, sem forçar meninas a serem princesas indefesas e meninos heróis sem sentimentos. Elogie as crianças pelo o que elas realmente são, mas não cobrem delas e, mais importante, não deixem que elas se cobrem uma perfeição que não existe.