Por Deborah Munhoz
Deveria haver um curso para a vida que nos ensinasse a cair como acontece nas aulas das artes marciais. É no tatame das academias o lugar onde um mestre faixa preta ou um aluno de faixa mais avançada ensina aos novatos como cair sem se machucar. Com a prática, os alunos acabam pegando o jeito, porque sabem que em qualquer luta, a queda faz parte do processo e que ninguém ganha antes de perder. A maestria requer um grande esforço que envolve treinar a mente, educar as emoções e o próprio corpo. Esses ensinamentos para a vida costumavam ser dados pelos pais e mães mais antigos. A modernidade foi retirando os pais de casa e o vazio deixado nas relações familiares tem gerado muitas pessoas que negam, tem medo ou não sabem que cair faz parte de um processo de amadurecimento.
Certa vez, o índio e escritor Ailton Krenak disse durante uma entrevista que a cidade transforma as pessoas em lesmas. A ausência dos pais para apoiar e corrigir e um sistema educacional que não prepara para a vida contribuem muito para essa ausência da cultura do esforço. Isto vai se refletir na vida dos profissionais e dos empreendedores brasileiros da atualidade. Cair e levantar vai dando tônus muscular e autoconfiança, pois cada queda é uma experiência de superação de limites e desafios. Que fique claro que não estou fazendo apologia aos tropeços e a queda. Eles são inevitáveis: virão quando menos se espera. Melhor aprender com levantar.
O tatame verdadeiro é a vida real. A luta diária envolve erros e falhas contínuas, até conseguirmos algum grau de sucesso. Quem se coloca no caminho da autonomia, de construir um empreendimento qualquer, precisa se preparar para cair e levantar. Isso requer um grande esforço, porque muitas vezes o maior inimigo estará dentro de nós mesmo (a)s. É preciso esforço para sair do lugar comum, abandonar ideias antigas, aprender coisas novas, entender o mercado, o contexto do cliente, o contexto político nacional e mundial. É preciso esforço para buscar pessoas que compartilhem dos mesmos valores para compor uma equipe que trabalhe afinada e que te ajude a vencer os desafios que a vida se encarrega de te apresentar. É preciso esforço para reger uma equipe para que ela melhore seu desempenho e para que as pessoas floresçam com o seu trabalho e não simplesmente trabalhem pelo dinheiro, status ou pelo poder. E é preciso entender que nós, empreendedores brasileiros, precisamos fazer muito mais esforço porque empreendemos em um país que não possui economia aberta – basta comparar o desempenho de empresas no Chile com o Brasil, por exemplo.
Para mover qualquer coisa é preciso fazer esforço. A Física nos ensina que a inércia é a propriedade de um corpo em manter-se em movimento ou manter-se parado até que alguma força seja feita sobre ele. Se nós, nossos empreendimentos pessoais e empresariais, nosso país não está indo em uma direção saudável, é preciso empenho e esforço para mudarmos a rota. “Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo” disse Arquimedes. Minha sugestão: procure apoiar sua vida e seus empreendimentos em pontos de apoio sólidos chamados valores universais tais como amor, paz, justiça, tolerância, liberdade, paz, responsabilidade, honra, bondade e respeito. Vale o esforço!