Assisti, essa semana, o documentário de Werner Herzog – “A caverna dos sonhos esquecidos” (2010). A Caverna Chauvet fica no sul da França e é um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo, descoberto em 1994. Este sítio é fechado ao público e para filmar seu interior, Herzog obteve autorização do governo francês. A caverna ficou oculta durante milhares de anos em função de um deslizamento, o que fez com que o interior fosse preservado até os nossos dias. Lá dentro foram descobertas pinturas rupestres de uma riqueza impressionante datadas de 28 a 40 mil anos atrás.
Mas o que há de tão extraordinário nessas pinturas?
O extraordinário é que elas falam de nós para nós. O tempo se dissipa, e escutamos nossos ancestrais. As pinturas estão vivas, frescas e exalam toda atividade humana. Vemos com clareza o traço humano que quer compreender o mundo. Lá encontramos o espírito humano desenvolvendo ideias, sensações e habilidades.
As imagens nos envolvem e nos emocionam. Por meio da arte do século XXI, a filmagem em 3D nos oferece a experiência de caminharmos por entre os corredores escuros da caverna, criou-se um diálogo com os primórdios da raça humana. Estamos em uma cápsula do tempo e ali compreendemos a grandeza do espírito humano. Não sabemos o porquê dessas pinturas nas paredes, mas a compreendemos em toda a sua força.
Essa talvez seja uma das grandezas da arte, proporcionar experiências significativas através dos séculos para aqueles que entram em contato com ela. A arte nos propõe diferentes formas de pensar, nos incentiva à pesquisa e a busca do novo.
O que faziam esses homens dentro da caverna pintando representações de animais que viviam em seu meio? Experimentavam, organizavam e se apropriavam de imagens criando um diálogo entre o mundo interno e o externo. Foi por meio da arte que o homem aprendeu com o outro. O ser humano inovou ao usar ferramentas para representar o seu mundo, explorar as possibilidades do meio e concretizar um objetivo. Cada material utilizado exigiu um aprender a pensar sobre cada uma de suas qualidades.
Ganhamos de herança de nossos antepassados essa capacidade inventiva, de comunicação e de criação que geram novas experiências. É nossa herança sermos seres simbólicos e empreendedores.
O que pode a arte?
Ela pode oferecer possibilidades, caminhos para a descoberta, para invenção. Valorize a sua herança cultural, experimente, invente, pesquise caminhe pelas diferentes formas de linguagem.
Ana Carmen Nogueira é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia. Coordenadora do grupo de mulheres caiçaras “Saíras do Bonete” em Ubatuba, São Paulo. Desenvolve pesquisa de pintura encáustica no Ana Carmen Nogueira Ateliê de Artes.