Por Mara Gabrilli
Se tem uma pessoa que sempre fez com que eu me mexesse – mesmo depois de perder os movimentos do pescoço para baixo – essa pessoa é minha mãe. Após ficar tetra e voltar a morar com meus pais em São Bernardo, foi ela quem me aconselhou a ir até a casa do então presidente, o Lula, para denunciar retaliações administrativas que vinham ocorrendo com empresários que prestavam serviço para a prefeitura. Na época, ouvir que eu deveria ir até a casa do presidente para um bate-papo soava como um devaneio. Mas, de tanto ela falar, eu fui. Ao sair da casa de Lula, toda a imprensa estava no local e todos queriam saber o que eu, uma desconhecida, na cadeira de rodas, fazia ali. Foi a primeira vez que pude falar à mídia sobre os “homens do Poder”, que cobraram propina e continuavam agindo indevidamente para que empresários da cidade pudessem manter suas empresas em funcionamento.
Antes disso, em 2004, quando já era, há alguns anos, presidente do Projeto Próximo Passo – uma ONG que fundei para apoiar atletas com deficiência e angariar pesquisas com células-tronco – resolvi me candidatar a vereadora de São Paulo. Ouvia da minha mãe que deveria me tornar política para ampliar o trabalho que fazia na ONG e ajudar mais pessoas. No começo não dei muito ouvido, mas não podia deixar de enxergar as injustiças – mais uma herança de minha mãe, que jovem foi apaixonada pelo Direito e uma das alunas mais brilhantes de seu curso.
Novamente, fui picada pela formiguinha da minha mãe e me candidatei. Sem apoio, sem campanha planejada, sem nada. Tive uma votação superexpressiva e fiquei como terceira suplente. No ano seguinte, o então prefeito José Serra me convidou para ser a primeira Secretária da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida do Brasil. Nascia ali a Mara política, cheia de planos, metas e sonhos. Fruto de uma forte influência de minha mãe, uma mulher inquieta: fez Direito, mas também foi sacoleira e vendia roupas. Adorava sair para dançar, praticar esportes, mas também sabia fazer pratos esplêndidos. Pintava quadros, inclusive premiados fora do Brasil.
Lembro-me que quando criança, tentou me colocar em aulas de ballet para que eu ganhasse disciplina, mas teve de se sucumbir a uma filha espoleta que gostava de subir em árvores ao ter que vestir um tutu. Se hoje sou uma Mara que encara qualquer parada, devo muito disso à minha mãe, que ao contrário de meu pai, às vezes era dura e exigente. Mas extraía de mim muito mais do que eu mesma acreditava ser capaz.
Dizem que conselho de mãe é irrecusável. No meu caso, foi mais que isso. Hoje, vejo o que aquele pontapé inicial dela surtiu em minha vida e na de milhares de pessoas que de alguma forma tiveram suas vidas transformadas por conta do meu trabalho. Enfim, às vezes, tudo o que precisamos é de um empurrãozinho. De rodas e com minha mãe empurrando, talvez eu tenha chegado mais rápido!
Nenhum comentário “Os empurrões de minha mãe”
Linda, inteligente, maravilhosa! Mara, não é a toa que o seu nome começa com M, que usa o prefixo de Mara – É porque realmente você é ma-ra-vi-lho-sa!