Por Carla Costa
Posso dizer que me permito esta licença poética, transformando em verbo, ou melhor em sensação plena aquela que é a especialização conhecida por Paisagismo, que encerra todas as outras disciplinas da minha formação acadêmica: Arquitetura e Urbanismo.
Meus amigos de profissão certamente torcerão o nariz para este delírio, mas se não for pela paisagem em si, por que a busca pela forma? Pela estética? Pelo resultado de uma obra em seu espaço? Senão que para compor uma bela paisagem. Não existe nada nem ninguém que não esteja inserido em uma paisagem, seja ela bucólica, como caminhos sinuosos com árvores deitando galhos floridos em um entardecer de primavera, uma praia deserta com rochedos intransponíveis, ou a megalópole em meio ao caos urbano, com seus arranha-céus e ritmo frenético do trânsito, tudo é paisagem; cada uma guarda ritmo, cor, beleza ímpar, todas despertam os nossos sentidos. Onde há uma linha em perspectiva que se perca num horizonte, mesmo que cheio de ruídos, interrompido muitas vezes por paredes cegas, destinos esquecidos pelo poder público, tudo é paisagem, feia, mal cheirosa , triste, abandonada…bela, fresca, natural ou construída, lá está ela pedindo para ser vivida e muitas vezes salva. Por isto eu digo “paisagise-se”, insira-se, esteja presente, observe o que está ao seu redor… Pare um pouco naquela esquina de todos os dias e observe lentamente cada detalhe, gire 360 graus, orbite em torno de si, participe….
Sou paisagista desde criança, tenho certeza, não que tenha o dedo verde que amaria ter, mas por amar os detalhes, as cores, os sons e sabores. Subia em árvores para comer goiabas habitadas, comia caju, jabuticaba, “paisagisava-me” andando na areia da praia admirando, como se fosse a primeira vez, toda aquela imensidão que me devorava, com estrondosas ondas quebrando na areia ou chegando de mansinho, molhando os pés, como num beijo de mãe. Criança entende de paisagem melhor que adulto, pois olha com olhar curioso, se entrega com todos os sentidos a tudo aquilo que vê, ouve, toca, experimenta, cheira.
Onde seus olhos tocam para além da caixa de morar passa a ser paisagem, no trajeto até o trabalho, na ida ao supermercado, há a intenção de ser belo, nenhuma obra nasce para ser feia, por mais que se torne, por um descaso de quem a gerou. Amo olhar, pela janela do meu apartamento, o asfalto molhado à noite, com as luzes dos faróis se multiplicando com o efeito da chuva, a copada das árvores se fechando sob meus olhos, a perspectiva apertada onde preciso inclinar a cabeça através da janela para ver o horizonte fluido, amo cada cenário destes, que confirmam que estou aqui presente, “paisagisando-me” no tempo que corre, mas não escuto, só me permito eternizar aquele momento, e que repetirá muitas vezes, provocando o mesmo deleite.
Talvez por isso eu ame tanto este assunto, pois ele me proporciona criar poesia no meu olhar e transformá-lo para cada cliente, que me convida a entrar um pouquinho na paisagem particular de suas lembranças, de seus desejos. Experimente, você vai gostar!
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