Por Karla Fabro
É muito comum escutarmos pais mencionarem o que querem para os seus filhos. Começam pela infância, escolhem a hora de brincar, as roupas, a comida, a carreira que devem seguir, etc. Em alguns casos é apenas o reflexo do que queriam para eles, assim acabam por fazer todas as escolhas. E, claro, sempre com boas intenções. Mas em que momento estas crianças são ajudadas a construir sua autonomia?
Uma das principais preocupações desses pais gira em torno de escolher a melhor escola para os filhos, além de outras atividades extras que vão praticar ao longo dos anos para se tornarem crianças exemplares, motivo de orgulho, em conversas com amigos e estranhos, “supercrianças” modelo com um futuro brilhante pela frente.
Mas será que em algum momento esses pais pararam para se perguntar se é o que as crianças querem? Quanto tempo investiram para conversar com os pequenos e investigar quais são as coisas que eles mais se interessam? Será que é aquele futuro que a criança quer ou sonha mesmo? O que leva uma criança de oito anos dizer que quer ser advogado, arquiteto, médico, engenheiro, etc? Será mesmo a sua voz ou reflexo dos pais tentando transformar crianças em pequenos adultos?
Estamos acostumados com a ideia de que sabemos muito melhor do que eles sobre absolutamente tudo, acabamos matando aos poucos a sua inventividade e a autonomia que deveríamos estar treinando, porque no final das contas os filhos são do mundo e não nossos, temos é que fazer de tudo para treinar a sua capacidade de escolha. Já dizia o psicanalista Jean-Pierre Lebrun, “é preciso ensinar os filhos a falhar, uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente”.
Recentemente estava com meu afilhado de 9 anos. Fomos ao cinema, e iríamos almoçar antes do filme, eu, falei para escolher o lanche que preferisse, afinal toda criança gosta de um fast food, hambúrguer, batata frita e refrigerante. Minha surpresa foi quando escolheu comer um macarrão daqueles que você mesmo monta o prato e escolhe os ingredientes. “Vou comer o de 500 gramas porque estou com muita fome e quero com o dobro de ingredientes”, disse. Confesso que achei que tudo isso seria muito e até pensei que ele poderia não comer tudo, mas vamos lá! Deixei ele à vontade para fazer suas pequenas escolhas. Azeite de oliva ou manteiga, gratinado ou não, com temperos, queijo ralado, etc., tive vontade de intervir várias vezes, mas conscientemente fui forte e resisti. No fim das contas ele comeu tudo e eu fiquei com a sensação de que tive mais uma aula.
Ao fazermos pequenas escolhas pelas nossas crianças, estamos impedindo que possam se aventurar, testar, errar, acertar e aprender. Estamos fazendo com que deixem de ver e fazer as coisas pelo seu olhar e passem a fazer pelo nosso. A forma como eles vêm as coisas é mais natural, espontânea, autêntica! Não podemos impedir que descubram a vida porque sempre achamos saber o que é melhor.
Meu objetivo aqui não é criticar ninguém nem dizer o que cada um deve fazer, porque senão eu estaria caindo na mesma situação, mas que tal começar por pequenas coisas, deixar que façam pequenas escolhas, inclusive os incentivar? É um caminho que precisamos treinar mais em nós mesmos para que eles cresçam com maior autonomia.