Por Jean Sigel
Em uma caminhada de aproximadamente meia hora com uma criança de 5 anos muito curiosa e observadora, é possível perceber claramente como o mundo delas está imerso nas perguntas e não nas respostas. Passeando com a minha filha Giovanna – Nana – fomos até à praça com o Jack – cão – e tanto na ida quanto na volta ela me surpreendia com perguntas e comentários dos mais curiosos e estimulantes.
– Pai, você viu que tem bambus novos nascendo ali naquele mato, e com certeza deve ter sacizinhos junto? Sabia que eles nascem ali?
– Pai, por que o rabo do Jack flutua na grama? (observando o Jack descansado na grama alta). Flutua filha? Sim, olhe lá como o rabo não entra na grama como a pata dele, porque eu acho que ele é bem leve, pois os pelos são leves, né?!
– Puxa é verdade filha, tem razão. Mas, pai, será que os nossos pelos flutuam na grama também? (e lá foi ela testar seus cabelos).
– Pai, venha ver essa abelha em perigo com as formigas. Onde? Aqui tem um monte de formigas vermelhas atacando a abelha. Mas como que elas conseguem se a abelha é maior e tem ferrão? Pois é, filha, o que você acha? Hummm, eu acho que é porque elas estavam com ciúme da abelha e se juntaram pra atacar ela. E aí a abelha perdeu.
– Pai, olha que flor curiosa essa. Veja lá, parece peninha de pássaro. Como será que se planta uma dessa lá em casa? Acho que vou falar com o Vovô Silvio, porque ele é especialista em plantas.
– Pai, olhe aquela pedra ali. Onde filha? Aquela lá com aquela pintura estranha. Parece a bandeira da Suíça (havia uma cruz branca na pedra).
Precisamos reaprender com as crianças, a perguntar mais. Perguntar de forma curiosa, sem nos preocuparmos tanto com o simples, o óbvio ou com o que os outros vão pensar.
Como adultos buscamos excessivamente apenas respostas o tempo todo, e, pior, geralmente nos apegamos àquelas primeiras respostas mais básicas e objetivas que nos mostram na maioria dos casos o mais do mesmo. Não exploramos as perguntas e preferimos ficar limitados a uma ou duas respostas. Nos apegamos a poucas perguntas apenas e queremos a melhor resposta rapidamente. Acontece em casa, na escola e acontece no trabalho. Deveríamos gastar mais tempo questionando e perguntando para obtermos mais repertório, mais criatividade e essencialmente mais possibilidades. Crianças não restringem possibilidades, se alimentam delas. Adultos esquecem que ainda possuem essa habilidade, mas se autoeditam, em nome da seriedade e do medo da exposição.
Empresas lutam arduamente para extrair opiniões, ideias e soluções em reuniões intermináveis, que não trazem novidades, e onde um ou dois falam apenas e os demais anotam, concordam e não perguntam. E mesmo com diversas perguntas e ideias na cabeça, elas permanecem lá, presas, pelo simples medo de perguntar.
Acho talvez que deveríamos seguir dois caminhos, inspirados nos pequeninos: gastar mais tempo perguntando para chegar a melhores respostas e ampliar nossas possibilidades. Perguntar, mas permitir e estimular que outros perguntem. E lembrar, no momento em que uma criança nos fizer duas, três ou cinco perguntas em poucos minutos, em termos paciência e sabedoria para ouvir e estimular.
Quem sabe assim, no futuro, tenhamos adultos menos sisudos, mais curiosos e com muito mais possibilidades que nós.