Por Janaína Barros
Lendo o livro “Faça Acontecer”, da Sheryl Sandberg, para uma Leitura com pRosa, lembrei de fatos esquecidos da minha infância. Lembranças de como perdi minha espontaneidade, criei uma barreira interna e deixei de me expor. Sou de observar muito e falar pouco. Gosto de ouvir. Mas dizem meus pais que eu era espontânea, mais falante e sempre dei minhas opiniões. Até os quatro anos e meio fui filha única. Nessa época fui alfabetizada em casa, por minha mãe que ainda não era professora formada. Cresci entre adultos, e na maior parte do tempo conversando só com adultos. Lendo tudo o que me caia nas mãos e fazendo contas simples, aos 6 anos ingressei na pré-escola, como era chamada na década de 1970.
A orientação de casa era para não falar e não aceitar doces ou balas de estranhos. Por ser novidade conviver com outras crianças e uma professora ainda “estranha”, eu falava menos que o de costume. Mas certa vez, por um sussurro eu e um colega fomos punidos por trocar conversas no momento em que era para fazer silêncio. Se não ouvimos, é porque estávamos com os ouvidos sujos, segundo a professora. Supervisionado, o menino foi primeiro a ser castigado. Eu, no entanto, mesmo envergonhada por ser castigada, cumpri sozinha minha sentença. Voltei para a sala, e tive que retornar acompanhada, para cumprir o castigo pela segunda vez. A professora não acreditou em mim. Aprendi duras lições nesse dia: falar sem permissão é passível de punição, minha palavra não valia nada sem testemunha, e para cumprir uma punição era necessário o carrasco. Lições fortes para uma criança daquela época.
Outro momento relembrado foi minha autopromoção. Conversando com uma menina que era minha vizinha e com minha mãe que nos buscava na escola, a ouvi contar sobre o que aprendia na quarta série primária, hoje 5º ano do ensino fundamental. Eu queria o que ela aprendia. Não apenas desenhar e ouvir a professora ler histórias. Eu sabia ler, e podia ler sozinha! Decidida a aprender, combinamos a travessura. Estratégia pronta, parti para a execução: fugi para a 4ª série. Em algum momento pedia para ir ao banheiro. Disfarçava uns minutos, batia à porta da sala dela. Não lembro que motivo eu dei, mas por alguma razão a professora me permitiu ficar sentada ao lado da menina. Ao final da aula, recuperava minha lancheira antes de ir para casa. Repeti a travessura algumas vezes, faceira pelo meu grande feito. Não lembro quanto durou a aventura. Mas lembro de quando a zeladora bateu à porta da 4ª série e me encontrou. Com jeito, ela descobriu o motivo e contou para minha professora. Desta vez, sem punição. Chamaram mamãe e aí a escola descobriu que eu estava adiantada. Uns 2 anos à frente da minha turma. Para eu não fugir, tentaram tornar as aulas mais atraentes. Mas, com 6 anos, eu tinha um currículo a cumprir. Passei a ter atividades diferenciadas, mantendo o conhecimento já adquirido. Entendi que a escola me oferecia algum aprendizado, mas com limites. Rebelde, mantive minha própria velocidade no desenvolvimento intelectual, sempre buscando aprender o que me interessava, mesmo fora do currículo escolar da minha faixa etária. Ah, se naquela época eu tivesse computador e internet!
Aos 6 anos perdi muito da espontaneidade para falar. Passei a ter medo de me expor: fazer leitura em voz alta, provas orais, apresentações na escola. Anos depois, como professora, falava tranquilamente com as crianças. Meu problema era com adultos. Nas aulas de teatro da faculdade de arte, mesmo com ansiedade e sofrimento aprendi a vestir uma personagem para falar em público. Depois da faculdade de Direito, com o coração pulsando em meu cérebro, e em pânico, tive muita dificuldade em entrevistas de emprego. Na carreira de advogada autônoma, para encarar as primeiras audiências, usei novamente minha personagem.
Sei que a professora teve boa intenção ao nos ensinar o respeito à fala do outro e do adulto. Acredito que não guardei mágoa disto. Mas, o estrago em minha autoconfiança foi feito. Após muita terapia realizada, quando já advogada e em transição profissional, redescobri minha voz e minha vez, mesmo sem lembrar a origem do problema. Agora sei que tenho muitas opiniões e contribuições a dar, e pessoas que querem ouvir.
Hoje, como terapeuta (aromaterapeuta, terapeuta floral e outras técnicas associadas), com o conhecimento adquirido, o aroma que utilizaria para tratar alguém com esta dificuldade, seria o óleo essencial de Hortelã pimenta. Este óleo essencial auxilia na comunicação e espontaneidade, como também ajuda a lidar com a timidez e o desamparo que o fato de ser desacreditada pode trazer.
Sempre é tempo de olhar para nosso história, seguir em frente e fazer nossa VOZ valer!
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