Andressa Messa Trivelli, 27 anos, brasileira, paulista e paulistana, nascida e criada. Bacharel em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, filha única, geniosa e descendente de espanhóis e italianos. Nas próximas linhas, será possível perceber que não tive uma trajetória “tradicional” de formados em Administração de Empresas e tampouco pretendo ter nos próximos anos.
Fonte da imagem: arquivo pessoal da autora
Em 2004, já percebia que minha carreira seria diferente da carreira da maioria dos meus colegas de faculdade. Estava envolvida com projeto de Iniciação Científica no Departamento de Teologia e não tinha interesses extracurriculares semelhantes aos dos meus colegas. Passei a questionar minha vocação para ser uma administradora de empresas. Enquanto colegas buscavam experiências de estágio em empresas, eu trabalhava como secretária escolar num Programa de Educação de Jovens e Adultos.
O ambiente pedagógico e o contato direto com a realidade educacional do país me fizeram duvidar que a administração de empresas, como área do conhecimento, pudesse ter alguma função numa sociedade na qual existem instituições de ensino superior que até mesmo aprovam alunos analfabetos funcionais.
Eu tinha muito apreço e dedicação ao meu trabalho naquele local, mas justamente quando convidada para assumir novas funções na organização, parei para refletir e avaliar se antes de mergulhar totalmente no mundo da educação, eu não deveria buscar novas experiências. Mudei totalmente de setor: fui trabalhar como estagiária numa empresa governamental, em cujo ambiente não me adaptei. Em seguida, fui convidada por uma colega para trabalhar num banco, na área de Planejamento Comercial.
Ainda que a experiência pudesse parecer a oportunidade dos sonhos para muitos de meus colegas, eu sentia que aquela significativa oportunidade, mesmo que estivesse me proporcionando muito aprendizado sobre o mundo corporativo, estava na verdade, enfatizando minha angústia com relação à falta de utilidade prática do conhecimento formal sobre administração. Minhas atribuições durante essa experiência pareciam me abrir portas unicamente para atividades vazias de significado para minha vida e uma automação no raciocínio sem objetivos maiores.
Decidi então, que me dedicaria a trabalhar no Terceiro Setor da economia: nele talvez morasse a última chance para que minha formação em Gestão pudesse ser praticada por mim com algum sentido em termos de valores pessoais.
Decidi me desligar e iniciei a trajetória que me mostrou que meu trabalho como gestora poderia ter significado e que, sem dúvidas, a minha vocação está na administração de empresas. Além de ser uma boa gestora, descobri que sou apaixonada pelo empreendedorismo, pelo pegar para fazer, pela inovação, por entender e participar de processos de maneira mais global e especialmente por ter a liberdade do meu trabalho como instrumento para transformar ideias em práticas rentáveis! Esse conjunto de possibilidades e esse tipo de ambiente produtivo e criativo eram justamente o que faltava no discurso da faculdade e nas experiências que tive após meu primeiro trabalho no EJA.
Durante os últimos cinco anos, dediquei-me a gerir e empreender a Tekoha. E também foi nessa experiência que meu encanto pela formalização do conhecimento sobre gestão renasceu. Pelo caminho do empreendedorismo de negócios sociais, e especialmente pela oportunidade de interação com a organizações como Artemisia, Ashoka, AIESEC, ArteSol, Sitawi, Vox Capital, The Hub, Setor Dois e Meio, Aliança Empreendedora e outras, passei a compreender onde moravam as lacunas que não me faziam perceber a importância e o significado que a academia tem para o crescimento e a melhoria das organizações.
Durante esses anos, com a ajuda da minha equipe, do meu sócio e do meu conselho, montei novas unidades de negócio da Tekoha, experimentamos diferentes modelos de gestão interna, gerenciei toda a empresa sozinha por três anos, selecionei times, realizei e facilitei os planejamentos anuais e semestrais, delimitei budgets, desenhei simuladores financeiros de toda a organização, determinei posicionamento da marca, aprendi autodidaticamente o que é e como fazer marketing digital, gerenciei e acompanhei as equipes nas suas metas, e é claro errei e acertei tantas vezes que já nem me lembro. Também era (e ainda sou) chamada como consultora para ministrar workshops sobre gestão nos nossos fornecedores e parceiros.
Passei boa parte desse tempo convicta de que a academia não entendia as necessidades práticas de um negócio: teorias são desenhadas voltadas para a prática de grandes multinacionais. Era tudo que conseguia enxergar e resmungava aos quatro ventos: “Ninguém se lembra de teorizar a ‘pequena gestão’: não é ‘sexy’, né? O fluxo de caixa de pelo menos 80% das empresas do Brasil não passa da casa dos R$20.000; não me lembro de nenhum exercício durante a faculdade cujo exemplo havia sido uma empresa desse porte”. Assim, até pouco tempo atrás, quis distância de qualquer atividade que tivesse relação com teorias formais de gestão.
Foi no ano passado, quando selecionada para o Programa 10.000 Mulheres, financiado pela Goldman Sachs, ministrado pela FGV, que voltei a namorar a academia. Percebi que a teoria formal finalmente fazia sentido na prática: após a experiência empreendedora, a oportunidade de troca com outras empreendedoras e a percepção de que bastava um pouco de distanciamento das questões do dia-a-dia e de reflexão, que as raízes originárias das teorias se apresentariam bem ali na minha frente. Além disso, durante o curso me senti mais próxima do mundo pedagógico e da educação, aliada à experiência que já vinha tendo como prestadora de serviços na Tekoha.
Hoje, a Tekoha passa por uma grande transformação e minha vida profissional também: estamos restringindo nosso trabalho apenas à prestação de serviços; e fui contratada por um membro do nosso conselho para assumir a gestão de duas unidades de negócio das suas empresas, o Grupo Regalarte.
E veja bem, a partir de agosto, voltarei a ser estudante: Mestranda na FGV. ( o/ ). Espero que seja a oportunidade para que eu mergulhe novamente naquilo que eu já sabia na teoria e agora pude ver que tem aplicação prática. Quero ir mais fundo: quero ter mais, novas e melhores informações e formação sobre gestão para melhorar e ampliar meu trabalho como prestadora de serviços, nessa minha nova fase profissional e também quem sabe para empreender de novo no futuro?
Sei que tenho um perfil bastante diferente dos meus futuros colegas de classe, a maioria das pessoas que buscam pelo MPA (o curso no qual fui aprovada) são executivos de grandes empresas. Já eu, tenho o perfil empreendedor, sou mulher e tenho apenas 27 anos. Ainda que eu tenha aprendido bastante sobre o mundo corporativo nas minhas experiências passadas, vejo que preciso de mais proximidade e compreensão desse mundo: minha arrogância de empreendedora iniciante hoje está transformada em uma curiosidade muito maior.
Andressa Messa Trivelli.
Nenhum comentário “Teorias revisadas”
Como seremos parceiros de luta pela sobrevivência ( ou seja, DEPENDEREMOS do nosso negócio ), creio que nossas empreitadas aliando sua maturidade jovem com a nossa vivência como grupo de empresas de pequeno orçamento (ou fluxo de caixa, como vc diz) têm grandes chances de sucesso, mesmo no complicado cenário que vivemos hoje.