Eu costumava usar essa expressão para perguntar às pessoas se elas estavam bem: “Tudo certo?” Porém, pensando nas situações que a vida nos traz, comecei a ver que aquela pergunta não fazia muito sentido, não representava o que eu observava.
Por exemplo, minha prima quando perdeu o emprego e logo em seguida terminou o namoro. Meus tios que foram rendidos por assaltantes armados que entraram na casa deles e lhes roubaram. Minha amiga que estava enfrentando a falência da própria empresa. A outra que estava iniciando uma empresa, sem muito dinheiro ou parceiros. Outro amigo que tinha fechado sua empresa iniciante por levar um golpe do sócio. Um colega de trabalho que levou um tiro em um assalto e ficou tetraplégico. Minha amiga que perdeu o pai por causas incertas, de repente.
Claramente, nenhuma situação apresentava certezas. A única certeza que todas essas pessoas tinham é que suas vidas estavam passando por mudanças intensas, que o dia que viviam era completamente diferente do que viveram há algum tempo atrás e que elas também não faziam ideia de como seria o dia de amanhã.
Passei a não conseguir escrever ou falar mais o recorrente “Tudo certo?”. Pergunta boba e que, uma vez vivos, já sabemos a resposta, quando o que me importa mesmo é saber como estão aquelas pessoas – tão queridas – naquele momento tão claro de mudança e de incertezas tão expostas. Como estão vivendo as incertezas? E, a partir daquela situação, buscarão reconstituir suas certezas ou reconstituir seu bem-estar, reconhecendo o eterno movimento (incerto) das coisas da vida?
Esse mês (novembro/2013) fiz um workshop de TaKeTiNa, que só reforçou esse sentimento: a vida é incerta, por natureza, mas podemos sempre nos conectar com o nosso ritmo para entender a nossa conexão com o ritmo do mundo. E isso sempre pode ser feito com bom humor.
Troquei o “Tudo certo?”, que além de tudo já condiciona bastante a resposta que ouvirei, pelo “Como você está?”, que representa meu interesse genuíno por como vai aquela pessoa, em um momento de mais ou menos incertezas, alegrias ou tristezas. O qual eu também posso substituir por um “Tudo em cima?”, que, acima de tudo, reflete a minha entusiasmada escolha pelo otimismo e pelo bom humor, principalmente nas incertezas.
Natália Menhem é cientista social pela Universidade Federal de Minas Gerais, com experiência em estudos socioeconômicos e engajamento de comunidades. É co-fundadora e co-diretora da startup Sustenta Projetos, que realiza diagnósticos de comunidades e trabalha para o fortalecimento do empreendedorismo de impacto. Integra a equipe organizadora do TEDxBeloHorizonte e é embaixadora do TEDx no Brasil em 2013.
Um pensamento em “Tudo certo?”
É verdade. O perguntar se uma pessoa está bem é tão automático que muitas vezes não nos damos conta de onde estamos (num velório por ex.) ou de como a pessoa que cumprimentamos se encontra em seu estado emocional. Mas confesso que fico pensando: Como introduzir a fala com pessoas nessas situações? Porque, cá pra nós, condolências, ninguém merece.