Por Allan Costa
Provavelmente os iniciados em lendas antigas estão familiarizados com o nome Sheherazade. Mas para a maioria da população, o nome da bela e inteligente rainha persa, narradora dos contos de As Mil e Uma Noites, só se tornou conhecido a partir do depoimento da repórter homônima de uma grande rede de televisão onde ela, de forma corajosa, lançou luz sobre a gravidade da situação de um certo País tupiniquim onde a sociedade, já completamente descrente do estado corrupto e inoperante, resolveu começar a fazer justiça com as próprias mãos.
Não vou entrar no mérito das declarações da repórter Raquel Sheherazade. Poderia escrever todo esse texto relacionando argumentos a favor ou contra o seu ponto de vista. Mas para o momento, isso não importa. O que importa, e muito, não é o teor do editorial, mas a sua forma. Ao pronunciar-se de forma firme e polêmica em rede nacional, e sem espaço para posturas “em cima do muro”, Raquel choca os desavisados e provoca reações por vezes furiosas. Mas para os observadores do comportamento humano, e mais especificamente, das virtudes que estão alçando mais e mais mulheres a postos de liderança, ela apenas reforça o que já se sabe: dentre tantas virtudes, as mulheres mostram a capacidade de ser, em geral, muito mais assertivas e corajosas na sua maneira de tomar posições firmes frente a temas polêmicos ou delicados.
Foi assim com Cleópatra, a mulher mais poderosa da antiguidade; foi assim com Joana d’Arc no século XV, a combatente francesa queimada na fogueira por heresia e tornada Santa pela Igreja em 1920; foi assim com a revolucionária Anita Garibaldi no Século XIX, conhecida como “Heroína dos Dois Mundos”; foi assim com Leila Diniz, um dos símbolos da revolução feminina no Brasil do Século XX; e tem sido assim, ao longo dos mais de 20 anos da minha carreira corporativa, com a grande maioria das mulheres com quem tive o privilégio de trabalhar e cuja capacidade de tomar e principalmente manter posições independente do seu grau de polêmica ou controvérsia, sempre foram objeto da minha admiração.
Homens, por natureza, são mais políticos. Tendem a se preocupar demasiadamente com aspectos subjetivos, impactos secundários e conexões não aparentes. A consequência? Decisões mais demoradas que o necessário e uma certa morosidade no avanço de questões que poderiam ser mais simples com um pouco mais de velocidade no gatilho e coragem para assumir os posicionamentos necessários de forma clara, ainda que eles possam ser polêmicos.
É por essas e outras que acredito plenamente que esse papo de “masculino x feminino” é de uma perda de tempo sem tamanho. As diferenças não são o problema, são a solução! É exatamente na soma destas diferenças que está a sabedoria. Talvez, o que ainda falte para nós, homens, seja a sensibilidade de compreender que, sim, mulheres são muito melhores do que nós em um monte de coisas. E não só compreender, mas reconhecer e valorizar! Vamos lá, rapazes, está na hora de sair de cima do muro! Exatamente como fez a Sheherazade.