Por Ana Paula Florenzano
Ao traçar um curso, fazer escolhas e definir metas, a mulher contemporânea se depara com um poderoso inimigo: a culpa. Decidir e seguir este traçado gera a dor de não poder estar em todos os lugares e com todos ao mesmo tempo.
A mulher do mundo corporativo que vive o conflito família versus empresa, acaba decidindo “sair antes de sair”. O que isto significa? Lá abandona a possibilidade de alçar grandes voos (ainda que reconheça ter plena capacidade para isto) e não aceita cargos de maior comprometimento por incluir em seu futuro próximo o desejo de engravidar.
Para ela a grande questão é ainda que tudo acontece cronologicamente muito próximo. Ao mesmo tempo que está no auge da carreira, seu relógio biológico também grita! Muitas vezes, seu companheiro não divide casa e a criação dos filhos. Conquistou o lado acadêmico, mas ainda é uma presença tímida nos cargos de alto nível no mundo corporativo.
Pesquisas mostram que empresas lideradas por mulheres, possuem melhores políticas para equilibrar o trabalho e vida pessoal, menores distâncias salariais entre homens e mulheres e mulheres em grande número em cargos de nível médio. Hoje, uma líder feminina chama a atenção pelo sexo e não apenas pela sua excelência no trabalho, o que é um contrassenso visto que somos preparadas academicamente como qualquer homem para desempenharmos nossas funções empresariais.
Na atualidade, são muitas as barreiras que impedem a flexibilização da jornada de trabalho para que a mulher possa cuidar de seu maior patrimônio: sua família. Estas barreiras muitas vezes são culturais no mundo dos negócios, onde habita o universo masculino , nos mostrando que a mulher conquistou o mercado, mas que ao homem ainda não é permitido flexibilizar seus horários para poder,em parceria com sua companheira ,criar seus filhos.
Com isso muitas optam por sair do ambiente corporativo por não ter espaço para cuidar de seus filhos com a mesma qualidade e empenho que cuidam das empresas que trabalham. Algumas aventuram-se no Empreendedorismo, de forma a tentar conciliar seus anseios profissionais, e outro caminho é passar alguns anos gerindo seus próprios lares, envolvidas integralmente na criação de seus filhos. Temos casos, em sua grande maioria, que não conseguem fazer nenhuma destas escolhas, mantendo-se em posições médias, com carga horária altíssima causando um grande dano pessoal e em sua família.
A hora é de revolucionar, ou seja, transformar de forma fundamental a estrutura da sociedade que se vive. Ela parte da consciência profunda,e não apenas de discursos rasos, mostrando que o debate deve ser feito sobre a visão do mundo corporativo em relação a criação das futuras gerações. Isto gerará menos culpa para a mulher e mais participação no mercado de trabalho.
Com o envolvimento dos homens nas tarefas importantíssimas e simples do dia a dia terão o que querem: filhos mais felizes e uma relação mais ativa com seu parceiro, conquistando o apoio da família em suas escolhas ,onde a culpa não será mais o motor que impulsiona o stress desta mulher moderna. A grande meta será homens apoiando mulheres, mulheres apoiando homens, sem julgar os objetivos de cada um. Por isso, é importante falar sobre o assunto, abordar as questões e tirar o véu da hipocrisia.
Como exigir de uma pessoa que está chegando no mercado de trabalho,numa entrevista, que tenha um QE( coeficiente emocional) equilibrado se esta mesma empresa não deu flexibilidade em anos passados, para que a geração anterior pudesse cuidar desta base emocional?
Ana Paula Florenzano
Empresária e estudiosa do universo feminino